O Estado de S. Paulo

Câmara põe em votação novo marco para setor de gás

Governo conta com aprovação do projeto para atrair competidor­es privados para mercado e destravar até R$ 43 bi em investimen­tos

- Anne Warth

Aposta do governo para destravar investimen­tos de até R$ 43 bilhões e reindustri­alizar o País, o novo marco do gás deve ir à votação hoje na Câmara. Alinhado ao novo mercado de gás, programa do governo mais conhecido como “choque da energia barata”, a proposta abre um setor que até pouco tempo era dominado pela Petrobrás.

Com a decisão da estatal de deixar o negócio de distribuiç­ão – onde é sócia de 19 de um total de 26 distribuid­oras – e vender sua malha de gasodutos e estruturas essenciais, o ministro da Economia, Paulo Guedes, avalia que a chegada de novos concorrent­es no setor pode fazer com que o preço do gás caia até 40%.

O texto em avaliação na Câmara traz adaptações para essa nova fase ( mais informaçõe­s nesta página). Ele muda o regime de exploração de gasodutos para o de autorizaçõ­es, mais simples que as atuais concessões, e impede que uma empresa atue em várias etapas da produção e impede a relação societária entre transporta­dores (atividade exercida por monopólio) e produtores e comerciali­zadores (em regime competitiv­o).

Além disso, a proposta assegura o livre acesso de outras empresas a infraestru­turas essenciais – como gasodutos, unidades de processame­nto e terminais de liquefação e regaseific­ação de GNL. Por fim, prevê regime de contrataçã­o de capacidade de gás por pontos de entrada e saída na malha de gasodutos de transporte, o promete agilizar e desburocra­tizar a prestação do serviço de transporte.

O relator do projeto, deputado Laércio Oliveira (PP-SE), vai manter o texto aprovado no ano passado pela Comissão de Minas e Energia da Casa e espera amplo apoio dos parlamenta­res. Na aprovação do regime de urgência para tramitação da proposta, foram 323 votos favoráveis. Aprovado em pleário na Câmara, o texto seguirá para o Senado. “O texto já foi amplamente discutido e é conhecido por todos. Não existe ambiente para novos adiamentos”, afirmou. “Todo o setor produtivo nacional está alinhado com o texto, à exceção das distribuid­oras.”

Na outra ponta, o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) vai defender três mudanças na proposta: a autorizaçã­o para construção de termoelétr­icas longe da costa, a permissão para uma mesma empresa atuar em várias etapas da produção e o veto à transforma­ção de gasodutos de distribuiç­ão (de uso exclusivo da distribuid­ora) em gasodutos de transporte (de uso compartilh­ado).

Para o deputado, o texto vai viabilizar a queda de preço do gás, mas por meio de importaçõe­s, e não da exploração do pré-sal. Por isso, avalia que é preciso uma política pública para construção de gasodutos. “O governo constrói rodovias e depois licita para a iniciativa privada. Por que não faz o mesmo com gasodutos?”, questionou. Ele diz que a mudança de status de alguns gasodutos pode elevar a inseguranç­a jurídica e afirma que os riscos de uma mesma empresa dominar várias etapas de produção podem ser controlado­s pelas agências reguladora­s.

‘Novo mercado’. Associaçõe­s de produtores, transporta­dores e consumidor­es defendem a proposta de Oliveira, entre elas a Associação Brasileira de Grandes Consumidor­es de Energia (Abrace), presidida por Paulo Pedrosa. “É curioso ver gente do Rio sem entusiasmo pela proposta, que é extraordin­ária para o Estado. E outras de Estados com vocação por renováveis defenderem térmicas distantes que vão encarecer a energia de seus Estados e tomar o espaço da expansão renovável”, disse Pedrosa. “Essa é a hora da escolha. Vamos aprovar o texto original de convergênc­ia do mercado ou vamos trocar o monopólio estatal por monopólios privados regionais?”

Já o presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas Distribuid­oras de Gás Canalizado (Abegás), Augusto Salomon, reitera que o projeto precisa estimular investimen­tos para a construção de infraestru­tura para acelerar a produção de gás natural. Para ele, isso só será assegurado com demanda firme – no caso, termoelétr­icas a gás natural inflexívei­s, ou seja, de uso contínuo.

“Com essas âncoras de consumo, incorporad­as no projeto de lei, os investidor­es terão muito mais segurança jurídica para fazer os aportes”, disse ele.

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ANDRÉ VALENTIM / AGENCIA PETROBRAS - 28/11/2014 Maioria. De 26 distribuid­oras, Petrobrás é dona de 16

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