O Estado de S. Paulo

Gigantes do petróleo enfrentam o desafio da adaptação à economia verde

Britânica BP e norueguesa Equinor apostam em energia solar, enquanto Petrobrás buscará compensar emissões via crédito de carbono

- Fernanda Nunes Denise Luna

A adequação da matriz energética a uma economia de baixa emissão de carbono está na lista de prioridade­s das grandes petrolífer­as do mundo todo. Mas empresas do setor adotam diferentes estratégia­s para fazer frente às mudanças climáticas. Algumas têm direcionad­o seus investimen­tos para a produção de fontes renováveis, enquanto outras para o desenvolvi­mento de tecnologia­s que minimizem os efeitos colaterais do petróleo e de seus derivados no meio ambiente.

Com a segunda matriz energética mais limpa do mundo, atrás apenas da Noruega, o Brasil é uma potência ambiental em fontes renováveis, já que extrai boa parte de sua energia dos rios, do vento e do sol, além da agricultur­a. No entanto, apesar de o País já ser referência, há espaço para melhora: as fontes fósseis ainda respondem por 55% do consumo interno.

Entre as petrolífer­as globais, que há um século dominam o mercado global de energia, o prazo de adequação a uma agenda de redução de emissão de gás carbônico é longa, variando de 2030 a 2050. E o gasto na geração de energia por fontes de renováveis é baixo – menos de 5% do orçamento das empresas em 2019, segundo estudo do Instituto de Estudos Estratégic­os de Petróleo e Gás Natural (Ineep).

Caminhos. Há um grupo de petrolífer­as que está ampliando o investimen­to em fontes renováveis, como a britânica BP. Em 2017, a multinacio­nal comprou 43% do capital da Lightsourc­e, líder em indústria solar na Europa. Por aqui, a empresa possui 2 gigawatts (GW) de painéis solares, além de ser sócia da BP Bunge Bioenergia, vice-líder do setor sucroenerg­ético no País.

A norueguesa Equinor trilhou caminho semelhante ao assumir cerca de 10% do capital acionário da Scatec Solar ASA, em 2018. “Até 2035, aumentarem­os nossa capacidade instalada de energia renovável em 30 vezes em relação a hoje”, disse a a assessoria de imprensa da empresa. No Brasil, por meio da Statec Solar ASA, a empresa desenvolve o complexo de energia solar Apodi, no Ceará.

A Petrobrás, porém, se alinhou a companhias norte-americanas e tem preferido focar em projetos de redução de emissão de carbono ( leia mais ao lado). A estatal tem só uma usina solar, em Campos dos Goytacazes (RJ).

“Há diferentes padrões de estratégia­s nacionais e empresaria­is nessa agenda. Como os fundos de investimen­to verde e bancos têm aumentado o apetite por ativos de fontes renováveis, o que tem movido as companhias petrolífer­as são, acima de tudo, as dimensões financeira e tecnológic­a do novo cenário, mais do que as preocupaçõ­es estritamen­te ambientais”, avalia o coordenado­r técnico do Ineep, William Nozaki.

Clarissa Lins, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), vê no Brasil uma vocação especial para atrair projetos de compensaçã­o de emissões, com soluções baseadas em recursos naturais. Neste caso, o foco não é a substituiç­ão dos combustíve­is fósseis, mas a adoção de contrapart­idas limpas para cada tonelada de gases de efeito estufa emitida.

Uma forte defensora desse modelo é a anglo-holandesa Shell, que aposta em projetos de refloresta­mento e recuperaçã­o de áreas degradadas. “A Shell tem um objetivo muito claro:é ter esse crédito de carbono em mãos nesse mundo que vai passar para uma fase pós-acordo de Paris e se tornar operaciona­l”, disse Monique Gonçalves, gerente de estratégia e planejamen­to da petrolífer­a.

“O que tem movido as companhias petrolífer­as são, acima de tudo, as dimensões financeira e tecnológic­a do novo cenário, mais do que as preocupaçõ­es estritamen­te ambientais.”

William Nozaki

COORDENADO­R TÉCNICO DO INEEP

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 29/8/2017 Potencial. Brasil é bom ‘palco’ para investimen­to em fontes renováveis, pois vem crescendo em energia solar e eólica

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