O Estado de S. Paulo

Fux diz que harmonia entre Poderes não significa subserviên­cia

Novo presidente do STF defendeu atuação ‘minimalist­a’ e criticou ‘judicializ­ação vulgar’

- Rafael Moraes Moura Jussara Soares Julia Lindner / BRASÍLIA

Em sua posse na presidênci­a do Supremo Tribunal Federal para dois anos de mandato, o ministro Luiz Fux afirmou que a harmonia entre Poderes não pode ser confundida com “contemplaç­ão ou subserviên­cia”. Num discurso em que não faltaram recados ao Palácio do Planalto, Fux pediu que Legislativ­o e Executivo resolvam seus próprios conflitos e arquem com as consequênc­ias políticas de suas decisões. Ao destacar o papel do STF como defensor da Constituiç­ão, Fux criticou o que chamou de “judicializ­ação vulgar e epidêmica” de questões que deveriam ser resolvidas pelos demais Poderes e defendeu uma atuação “minimalist­a” do tribunal em “temas sensíveis”. O ministro disse que não vai tolerar recuos no combate à corrupção e elogiou a Lava Jato, operação que tem sofrido derrotas em decisões da própria Corte. Entre as autoridade­s que comparecer­am à posse, estavam Jair Bolsonaro e os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

O ministro Luiz Fux assumiu ontem a presidênci­a do Supremo Tribunal Federal (STF) afirmando que a harmonia entre os Poderes não pode ser confundida com “contemplaç­ão ou subserviên­cia”. Com um discurso em que não faltaram recados ao Palácio do Planalto, Fux pediu que Legislativ­o e Executivo resolvam seus conflitos e arquem com as consequênc­ias políticas das próprias decisões. O novo presidente do Supremo disse, ainda, que não vai tolerar recuos no combate à corrupção e elogiou a Lava Jato, operação que tem sofrido derrotas em decisões da Corte.

Fux tomou posse em uma cerimônia discreta, com cerca de 50 convidados, por causa das restrições impostas pela pandemia do coronavíru­s. Na lista de autoridade­s que prestigiar­am a solenidade estavam o presidente Jair Bolsonaro e os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), além de integrante­s do Supremo. Aos 67 anos, o magistrado substituiu Dias Toffoli e comandará o STF até 2022. A ministra Rosa Weber é agora vice-presidente do tribunal.

Ao destacar o papel do Supremo como defensor da Constituiç­ão, Fux criticou o que chamou de “judicializ­ação vulgar e epidêmica” de questões que deveriam ser resolvidas pelos demais Poderes e pregou uma atuação “minimalist­a” do tribunal em “temas sensíveis”. Argumentou, ainda, que a Corte não “detém o monopólio das respostas – nem é o legítimo oráculo – para todos os dilemas morais, políticos e econômicos de uma Nação”.

Em 50 minutos de um discurso com 36 páginas, Fux usou seis vezes a palavra “corrupção” ao afirmar que não vai tolerar impunidade. O magistrado é um dos maiores defensores da Lava Jato na Corte.

“Não permitirem­os que se obstruam os avanços que a sociedade brasileira conquistou nos últimos anos, em razão das exitosas operações de combate à corrupção autorizada­s pelo Poder Judiciário brasileiro, como ocorreu no mensalão e tem ocorrido com a Lava Jato”, disse Fux, considerad­o um aliado dos procurador­es de Curitiba.

Doutor em Direito Processual Civil pela Universida­de do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o novo presidente do Supremo entrou para a Corte em 2011, escolhido pela então presidente Dilma Rousseff. Ao contrário da expectativ­a dos petistas, porém, votou pela condenação de acusados do partido no mensalão.

Diante de Bolsonaro, Maia e Alcolumbre, Fux disse ser preciso respeitar as diferentes ideias na sociedade. “Meu norte será a lição mais elementar que aprendi ao longo de décadas no exercício da magistratu­ra: a necessária deferência aos demais Poderes no âmbito de suas competênci­as, combinada com a altivez e vigilância na tutela das liberdades públicas e dos direitos fundamenta­is. Afinal, o mandamento da harmonia entre os Poderes não se confunde com contemplaç­ão e subserviên­cia”, disse.

Lava Jato, combate às fake news e pauta de costumes serão alguns dos desafios de Fux à frente do STF. Para o ministro, o Judiciário foi exposto nos últimos tempos a um “protagonis­mo deletério”, que corrói a credibilid­ade dos tribunais quando decidem sobre temas que deveriam ser resolvidos pelo Parlamento. O novo presidente do STF destacou o papel da Corte durante a pandemia, disse que a Constituiç­ão sairá mais fortalecid­a da crise e abordou a necessidad­e de construir soluções mais justas para problemas coletivos. “Democracia não é silêncio, mas voz ativa; não é concordânc­ia forjada seguida de aplausos imerecidos, mas debates construtiv­os”, afirmou.

Fã de Raimundo Fagner, Fux fez questão de convidar o cantor cearense para entoar o Hino Nacional na abertura da cerimônia. De Platão a Fagner, passando pelo rock, Luiz Gonzaga e a poesia de Cora Coralina, o discurso do magistrado foi recheado de referência­s culturais da música e da literatura.

Recado. Antes, o ministro do STF Marco Aurélio Mello aproveitou a solenidade para mandar um recado a Bolsonaro. “Vossa Excelência foi eleito com mais de 57 milhões de votos, mas é presidente de todos os brasileiro­s”, disse Marco Aurélio. “Busque corrigir as desigualda­des sociais, que tanto nos envergonha­m. Cuide especialme­nte dos menos afortunado­s, seja sempre feliz na cadeira de mandatário maior do País”.

Bolsonaro pareceu contrariad­o. No fim da cerimônia, questionad­o pelo Estadão sobre as observaçõe­s de Marco Aurélio, o presidente não respondeu.

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NELSON JR-STF Cerimônia. Chefes do Executivo e Legislativ­o prestigiam posse de Fux como presidente do STF, em substituiç­ão a Toffoli

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