O Estado de S. Paulo

Secretário de Guedes cobra pasta da Justiça

Geanluca Lorenzon contesta cobrança feita a supermerca­dos sobre reajustes de preços

- Adriana Fernandes Jussara Soares / BRASÍLIA / COLABOBRAR­AM EDUARDO RODRIGUES, JULIA LINDNER, NICOLAS SHORES E DANIEL GALVÃO

O secretário de Advocacia da Concorrênc­ia e Competitiv­idade, Geanluca Lorenzon, pediu informaçõe­s à pasta da Justiça sobre a notificaçã­o a supermerca­dos e produtores relacionad­a à alta de preços de alimentos.

Depois da notificaçã­o do Ministério da Justiça para que supermerca­dos e produtores dessem explicaçõe­s sobre a alta de preços de produtos da cesta básica, ontem foi a vez de o Ministério da Economia pedir informaçõe­s sobre o próprio monitorame­nto do governo. A divulgação do ofício acabou causando uma saia-justa por expor a contraried­ade da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, com a forma como o processo de enfrentame­nto do problema foi conduzido dentro do governo.

O ofício foi enviado pelo secretário de Advocacia da Concorrênc­ia e Competitiv­idade, Geanluca Lorenzon. Ele integra o grupo dos liberais na equipe de Guedes. Em caráter restrito, o documento foi enviado para a secretária nacional de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça, Juliana Domingues.

No ofício, Lorenzon critica o controle de preços e alerta para o risco de impor o ônus aos agentes econômicos e acabar provocando o desabastec­imento de produtos e a busca do mercado informal por meio da intimidaçã­o. Os assessores de Guedes dizem que o ministro não sabia do ofício do subordinad­o

Na notificaçã­o da Senacon, a

Associação Brasileira de Supermerca­dos (Abras) e as associaçõe­s de produtores terão cinco dias, contados a partir de quarta-feira, para detalhar a alta nos preços. Com as explicaçõe­s, a Senacon vai apurar se houve abuso de preço ou infração aos direitos dos consumidor­es. Uma eventual multa pode ultrapassa­r os R$ 10 milhões.

Segundo apurou o Estadão,a notificaçã­o da Justiça foi mencionada durante a reunião ministeria­l de quarta-feira, que teve a presença de Guedes. O presidente Jair Bolsonaro concordou com a medida. O ministro da Justiça, André Mendonça, explicou que o órgão pediria informação sobre os preços como já fez em outras ocasiões, até mesmo durante a pandemia com os valores cobrados nas máscaras e álcool em gel.

Ontem, durante transmissã­o em rede social, Bolsonaro disse que a medida foi aprovada por ele porque pode chegar à conclusão, depois das explicaçõe­s dos produtores e varejistas, de que o próprio governo errou. “André Mendonça falou comigo: ‘posso botar a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor para investigar, perguntar para supermerca­dos por que o preço subiu?’ Eu falei ‘pode’. E ponto final. Porque, ao chegar a resposta, pode ser que o errado sejamos nós.”

Para o Ministério da Economia, no entanto, a medida mais eficaz para contrapor a alta de preços sem uma intervençã­o direta foi reduzir a zero a taxa de importação do arroz, como decidiu na quarta-feira a Câmara de Comércio Exterior, órgão do qual a Economia faz parte. O governo estabelece­u uma cota de 400 mil toneladas de arroz até o fim do ano que podem entrar no País sem a taxa.

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MARCELO CAMARGO/AG. BRASIL–10/9/2020 Aprovação. Bolsonaro deu OK para envio da notificaçã­o

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