O Estado de S. Paulo

Título verde move US$ 8,1 bi no Brasil

Para especialis­tas, 50 emissões já feitas são ‘ponta do iceberg’: potencial é de trilhão

- Érika Motoda

O País soma 50 emissões de títulos sustentáve­is, com capitaliza­ção total de US$ 8,1 bilhões. A maioria está ligada à correta exploração de florestas e energia renovável.

Em um momento em que aumenta a demanda global por investimen­tos em “causas verdes”, o Brasil soma hoje 50 emissões de títulos sustentáve­is, com capitaliza­ção total de US$ 8,1 bilhões. Ao emitir esses papéis, as empresas se compromete­m a investir em projetos de impacto ambiental positivo. A maioria está atrelada à correta exploração de florestas (38%) e à geração de energia renovável (24%).

Esses dados fazem parte de um levantamen­to da empresa de soluções financeira­s para impacto socioambie­ntal Sitawi e compreende o período de maio de 2015 – quando a BRF lançou o primeiro título do gênero – até a última captação, feita em agosto, pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA).

Embora a maior parte da captação tenha finalidade de manter os projetos das próprias empresas emissoras, já há iniciativa­s, como a do BV (Banco Votorantim), que buscam atingir consumidor­es em geral, com o financiame­nto para compra de sistemas de energia solar.

O mercado internacio­nal é mais receptivo, segundo a Sitawi, à captação de recursos para projetos verdes: 69% dos papéis locais foram emitidos no exterior, e o instrument­o mais utilizado foram as “global notes”, que representa­m 57% da carteira. O segundo instrument­o mais utilizado foram as debêntures de infraestru­tura, com 22%, mas estas foram vendidas no mercado por aqui.

Integrante­s do Laboratóri­o de Inovação Financeira (LAB) acreditam que é preciso preparar o ambiente regulatóri­o no Brasil para atrair investidor­es privados para diversos tipos de empreendim­entos, incluindo os ambientais. O LAB foi criado para promover finanças sustentáve­is no País e é composto pela Associação Brasileira de Desenvolvi­mento (ABDE), o Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento (BID) e a Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM).

“Temos trabalhado com o CBI (Climate Bonds Initiative) e o Ministério da Economia para mapear projetos federais que poderiam capturar financiame­nto (verde). Diversific­ar esse selo e converter o Brasil em líder na região é uma possibilid­ade”, disse Morgan Doyle, representa­nte

do BID no Brasil.

Até 2030, seria possível transforma­r esses US$ 8,1 bilhões em trilhão, pois o País se compromete­u, no Acordo de Paris, a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% (considerad­os

os níveis de 2005). Segundo o Banco Mundial, isso vai requerer investimen­tos de US$ 1,3 trilhão para que o Brasil aumente sua participaç­ão em bioenergia sustentáve­l, além de restaurar e refloresta­r 12 milhões de hectares na Amazônia.

A emissão de títulos verdes segue os mesmos ritos das de um título comum, com um adicional: é preciso que um agente externo emita uma segunda opinião, atestando que o projeto de fato tem impacto ambiental positivo. A Sitawi fez esse trabalho em metade dos títulos verdes em circulação. O diretor de finanças sustentáve­is da empresa, Gustavo Pimentel, disse que tem atualmente dez mandatos em avaliação, no valor de R$ 5 bilhões, ainda para 2020.

Segundo a especialis­ta em finanças do BID Maria Netto, a B3 vem trabalhand­o conosco em uma plataforma de transparên­cia para tentar ver como os usos de recursos dos títulos têm impacto verde.

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FELIPE RAU/ESTADÃO–14/10/2019 Energia. Banco Votorantim tem financiado compra de painéis solares por consumidor­es

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