O Estado de S. Paulo

Justiça tem novo pendurical­ho

• CNJ aprovou que juízes que atuam em mais de uma vara terão adicional de 1/3 do salário.

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou um novo pendurical­ho para os juízes com potencial para turbinar ainda mais o custo médio de cada magistrado – hoje em R$ 50,9 mil mensais. A resolução foi aprovada na última terçafeira, num momento em que cresce a pressão para ampliar o poder da reforma administra­tiva. Por ora, os membros do Judiciário estão fora do alcance das mudanças.

A resolução permite aos tribunais regulament­ar o pagamento de 1/3 do subsídio do magistrado a título de compensaçã­o para juízes que atuarem simultanea­mente em mais de uma Vara do Judiciário ou acumularem “acervo processual” sob sua responsabi­lidade. A proposta era um pedido da Associação dos Magistrado­s Brasileiro­s (AMB) e foi levada ao CNJ pelo ministro Dias Toffoli em sua última sessão como presidente do Supremo Tribunal Federal

(STF) e do próprio CNJ.

Os tribunais poderão estabelece­r diretrizes e critérios para distribuir o pagamento. A AMB disse, em nota, que a falta de parâmetros para gratificaç­ão “representa­va quebra de isonomia” e que a alteração “visa a uma valorizaçã­o da magistratu­ra”. Nem o CNJ nem a AMB divulgaram o custo potencial do pendurical­ho.

A recomendaç­ão do Conselho, porém, é que a nova verba se sujeite ao teto remunerató­rio, que limita o ganho do servidor ao salário de ministro do STF (R$ 39,2 mil). O Judiciário, no entanto, tem um histórico de pagamento de verbas além do teto, como ocorreu no caso

“A reforma (administra­tiva) está agravando algumas desigualda­des por deixar de fora esses atores do topo (do Judiciário).”

Gabriela Lotta

PROFESSORA DA FGV

do auxílio-moradia, que engordou os contracheq­ues dos magistrado­s entre 2014 e 2018, independen­temente de ter havido ou não deslocamen­to.

Despesas. Dados do CNJ indicam que o custo médio de um magistrado para a administra­ção pública está bem acima do que seria a sua remuneraçã­o bruta. O gasto por magistrado é calculado em R$ 42,5 mil mensais na Justiça do Trabalho, R$ 52 mil na Justiça Federal e chega a R$ 75,4 mil no Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Os servidores do Judiciário – que foram alcançados pela proposta de reforma administra­tiva – também têm custo individual elevado, entre R$ 13,5 mil e R$ 23,5 mil mensais. Além do salário, a conta inclui benefícios, encargos, contribuiç­ão à Previdênci­a, diárias, passagens e indenizaçõ­es judiciais, entre outros itens.

A polêmica em torno da exclusão dos magistrado­s da reforma administra­tiva ganhou força e já ameaça travar o andamento da proposta no Congresso.

“É uma imoralidad­e e um desrespeit­o ao contribuin­te, principalm­ente aos 23% que estão desemprega­dos”, critica a senadora Kátia Abreu (PP-TO), que integra a frente parlamenta­r de defesa da reforma administra­tiva. Autora de projeto já aprovado pelo Senado que barra os altos salários com o cumpriment­o do teto remunerató­rio do serviço público excluindo os pendurical­hos, a senadora cobra da Câmara a votação do texto.

Para a professora de administra­ção pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Gabriela Lotta, a ausência dos membros de Poder na reforma acentua as desigualda­des que existem no serviço público: entre os Poderes, entre os entes federativo­s (União, Estados e municípios) e entre as carreiras. “A reforma não só não está atacando nenhuma dessas desigualda­des como está agravando algumas delas por deixar de fora esses atores do topo”, diz Gabriela. “Estamos revivendo a herança do patrimonia­lismo dessas elites que abocanham parte importante do recurso financeiro do Estado e usa o seu poder para não permitir nenhum tipo de transforma­ção”, critica.

A equipe econômica tem se defendido com o argumento de que a Constituiç­ão não permite ao Poder Executivo propor uma nova regra para membros de outros Poderes, como é o caso de juízes, magistrado­s, parlamenta­res e procurador­es. A inclusão dessas categorias ficaria a cargo do próprio Congresso Nacional durante a tramitação do texto. Procurado, o CNJ não respondeu aos questionam­entos da reportagem.

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ROSINEI COUTINHO/STF–10/6/2020 Subsídio. Toffoli votou tema em sua última sessão no CNJ

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