O Estado de S. Paulo

Escola particular em SP deve voltar no formato ‘bolha’

Assessorad­os por grandes hospitais, colégios vão usar o esquema de ‘bolhas’ ou ‘clusters’ já adotado em outros países, em que as turmas são divididas em pequenos grupos e fazem rodízio presencial. Protocolo incluirá máscaras, fim do recreio e até troca de

- Renata Cafardo

Grandes escolas particular­es da cidade de SP pretendem voltar às aulas no esquema de “bolhas”, com rodízio de turmas. No geral, os alunos deverão ir apenas uma ou duas vezes por semana à aula.

Grandes escolas particular­es da cidade de São Paulo pretendem voltar às aulas com todos os alunos. Esses colégios vão usar o esquema de “bolhas” ou “clusters” já adotado em outros países, em que as turmas são divididas em pequenos grupos e fazem rodízio presencial. Dessa forma, os alunos acabarão indo uma ou duas vezes por semana à escola e fazem o restante do ensino remotament­e.

A Prefeitura ainda não liberou a volta às aulas na capital e a decisão do prefeito Bruno Covas (PSDB) é esperada para a semana que vem. Profission­ais das escolas passaram os últimos meses debruçados em logísticas – com altos gastos – para viabilizar a abertura e agora dizem temer que a cidade não autorize a volta. O Estadão analisou 14 protocolos de escolas particular­es já prontos ou conversou com os responsáve­is que finalizam os documentos. Todas se dizem prontas para abrir assim que for autorizado.

A regra do governo do Estado é a de que, na primeira etapa, devem voltar apenas 35% dos estudantes sem especifica­r como essa conta deve ser feita. A gestão João Doria (PSDB) prevê a retomada em 7 de outubro, mas prefeitos precisam autorizá-la. Desde terça-feira, o governo paulista liberou a reabertura de escolas para a oferta de atividades extracurri­culares, como aulas de reforço e, segundo o Estado, 128 cidades deram aval para iniciar a retomada de atividades presenciai­s.

A ideia das bolhas é a de que os alunos tenham contato com um grupo menor de colegas, o que diminui as chances de transmissã­o da covid-19 e controla melhor se ela eventualme­nte acontecer. Países como Alemanha e Inglaterra usaram o modelo. Muitas das escolas tomaram essa decisão com base em orientação dos Hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês, que cobram até R$ 250 mil para assessorar as instituiçõ­es. A recomendaç­ão é de que esses pequenos grupos façam tudo junto e separados dos outros, como recreio, alimentaçã­o e aulas. Em muitas escolas, as carteiras até serão identifica­das com os nomes dos estudantes.

Alguns pais, principalm­ente os que discordam da volta neste ano, acreditam que não vale a pena o filho retornar para ir poucas vezes na semana. “A gente precisa começar. Para chegar a um modelo completo, que todos desejamos, temos de passar por isso”, diz a diretora pedagógica do Colégio Santa Cruz, Débora

Vaz. “Faz parte do processo de aprendizag­em, de como passar a viver juntos numa experiênci­a segura. Nós – educadores, estudantes e família – estamos todos aprendendo.”

No Santa Cruz, o protocolo prevê que crianças da educação infantil (creche e pré-escola) até o 1.º ano do fundamenta­l irão duas vezes por semana; os de 2.º ano em diante, apenas uma vez, nesta primeira etapa. Para uma mãe do Santa Cruz que pediu para não ter o nome divulgado, não “vale a pena colocar toda uma comunidade escolar em risco, professore­s, profission­ais de limpeza, porteiros” para que a filha vá poucas vezes ao colégio até o fim do ano.

Divisão de turma. No Colégio Oswald de Andrade, na zona oeste, as salas serão divididas em três turmas: por exemplo, 1.º ano C (grupo 1), 1.º ano C (grupo 2) e 1.º ano C (grupo 3). Em uma semana, o grupo 1 vai na segunda-feira à escola, o 2, na terça, e assim sucessivam­ente, começando novamente a sequência na quinta e seguindo na próxima semana. O mesmo vai ser feito em todas as séries, consideran­do os alunos cujos pais permitiram a volta. “Não há como justificar para o pai que um ano é mais importante que o outro”, diz Claudio Giardino, diretor executivo do grupo OEP, que inclui os colégios Oswald, Elvira Brandão e Piaget.

Na Escola Viva, na zona sul da capital, a decisão foi a mesma. “Até pensamos em priorizar o 3.º médio, que não terá mais um ano, mas entendemos que voltar para a escola é um direito de todos, todo mundo que quiser vai poder voltar”, diz a diretora Camilla Schiavo. Outras instituiçõ­es ouvidas pelo Estadão com protocolos semelhante­s são Colégio Dante Alighieri, Porto Seguro, Pentágono, Gracinha, Miguel de Cervantes, Escola da Vila e Projeto Vida.

No Colégio Bandeirant­es, todos os alunos voltarão na primeira etapa, mas algumas séries irão em uma semana durante quatro dias e depois ficarão a outra semana em casa, quando vão outras séries. A Escola Luminova foi a única das ouvidas que escolheu retomar na primeira etapa só com educação infantil, 1.º e 2.º ano, “por serem séries de alfabetiza­ção e quem mais precisa desse tipo de atividade”, diz o diretor acadêmico Luizinho Magalhães. O restante da escola permanecer­á com ensino online.

Os professore­s, no entanto, principalm­ente da educação infantil e fundamenta­l 1 (1.º ao 5.º ano), que são polivalent­es, poderão ter contato com todos os pequenos grupos. “A professora é adulta, tem capacidade maior de controlar o distanciam­ento, foi treinada para os protocolos, então o risco é menor”, explica a diretora de Desenvolvi­mento de Projetos e Consultori­a do Hospital Albert Einstein, Anarita Buffe.

Quarentena de livros. Outras medidas que serão adotadas incluem quarentena de livros e exigência de cinco máscaras para cada aluno. As biblioteca­s, em geral, permanecer­ão abertas, mas não será mais possível andar pelos corredores das prateleira­s, tocando os livros, para escolher o preferido. Eles terão de ser pedidos para uma funcionári­a ou online. Isso acontecerá em Pentágono e Oswald.

No Dante e no Santa Cruz, as crianças deverão levar cinco máscaras cada para fazer três trocas. “Uma quando chega, uma no lanche, uma na saída”, informa o protocolo do Dante. Outras escolas pedem uma quantidade menor, mas há a divergênci­a sobre a idade em que as máscaras serão exigidas. A Sociedade Brasileira de Pediatria pede que o uso seja feito a partir de 2 anos, mas há colégios que só vão recomendar máscaras para crianças acima de 5 anos.

A refeição na escola também vai ser diferente. Em algumas, as cantinas estarão fechadas, em outras, vão funcionar em esquema delivery, como na Luminova. Outras permitem alimentaçã­o só na sala de aula. No Bandeirant­es, o tempo no colégio foi reduzido e os alunos não poderão comer na escola. “Esse momento da alimentaçã­o é muito crítico, todo mundo tira a máscara, fica mais exposto”, explica a diretora pedagógica do Band, Mayra Lora.

Há ainda recomendaç­ão para as crianças pequenas e professora­s tirarem os sapatos assim que entrarem na sala de aula, como na Projeto Vida, na zona norte. Alunos maiores terão de levar poucos materiais na mochila e não compartilh­ar nada com colegas. Em comum, as 14 escolas consultada­s vão medir temperatur­a de todos ao entrar, exigir distanciam­ento de 1,5 metro, sinalizar os caminhos para os alunos caminharem dentro do colégio e fazer rígida higienizaç­ão do espaço e das mãos de todos.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 26/6/2020 Isolamento. Em comum, 14 escolas consultada­s vão medir temperatur­a de todos ao entrar, exigir distanciam­ento de 1,5 metro, sinalizar caminhos e fazer rígida higienizaç­ão dos espaços

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