O Estado de S. Paulo

No STF, circunstân­cias são mais importante­s que atores

- Carlos Melo ✽ CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER

OSTF tem assumido papéis que, no regime democrátic­o, nem deveria cogitar. Ministros nem sempre se submetem à finitude das leis e intervêm em assuntos da política. Hostilizad­os, mesmo quando certos, ouvem radicais pedirem o fechamento do tribunal – com apoio do presidente da República. Se erram com as leis é tema para juristas; fora do campo jurídico, é no seio da crise política que têm exercido o principal papel que ora desempenha­m.

Em virtude disto, a simples sucessão na presidênci­a do tribunal desperta inquietaçã­o: como Luiz Fux se comportará no comando do Poder e como transcorre­rão processos e disputas de natureza política, no STF? Por si, a trajetória de Fux não dá conta da questão – até porque dependerá muito de seus colegas. No mais, circunstân­cias são mais importante­s que atores: foi a dinâmica política que trouxe o País a este ponto. A crise fez, em várias instâncias, que magistrado­s ocupassem espaços impróprios, mas a responsabi­lidade disso é do próprio corpo político, por falhas e omissões. Na incompreen­são da custosa transição social e na dramática miopia política quanto ao futuro reside a confusão. Há desolação política em não saber o que fazer, o que debilita ainda mais os políticos – vítimas e algozes desse processo –, sem respostas para a agenda da sociedade.

Nasce daí sua imensa crise de liderança, não apenas no Brasil. Partidos sem compreende­r a sociedade que deveriam representa­r; juízes justiceiro­s; procurador­es quixotesco­s; políticos demagogos; sociedade enfurecida... É no STF que tudo isso vai desembocar. Seu presidente só poderá dar aquilo que as circunstân­cias permitirem, mas é necessário que, primeiro, as compreenda – sem vaidade.

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