O Estado de S. Paulo

Crivella é alvo de buscas e tem o celular apreendido

Ministério Público e Polícia Civil do Rio suspeitam de pagamentos ‘por fora’ de empresas interessad­as em contratos com o município

- Caio Sartori / RIO

O prefeito do Rio e candidato à reeleição, Marcelo Crivella (Republican­os), foi alvo ontem de uma operação do Ministério Público e da Polícia Civil que apura suspeita de “pagamentos por fora” por empresas em troca de contratos com o município. São investigad­os no caso – chamado de “QG da propina” – crimes de corrupção e organizaçã­o criminosa. Pela manhã, houve buscas na residência de Crivella e em duas sedes da prefeitura – o Palácio da Cidade, na zona sul, de onde ele despacha, e o prédio administra­tivo, no centro. O celular do prefeito foi apreendido.

Na terça-feira passada, o MP já havia cumprido mandado de busca e apreensão em endereço de outro candidato à prefeitura, Eduardo Paes (DEM). Paes ainda se tornou réu na Justiça Estadual do Rio por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral, sob acusação de ter recebido R$ 10,8 milhões em caixa 2 da Odebrecht em 2012. Ele nega.

A ação de ontem, que mirou Crivella, é um desdobrame­nto da Operação Hades, deflagrada em março, com base na delação premiada do doleiro Sérgio Mizrahy. Segundo o colaborado­r, empresas interessad­as em contratos do Executivo municipal se reuniam no “QG da propina”. Agora, os investigad­ores buscam comprovar a existência do local, que seria uma sala na própria prefeitura onde seriam acertados os repasses.

O empresário Rafael Alves é suspeito de ser o operador do esquema. Embora sem cargo na prefeitura, ele seria o responsáve­l por tratar com as empresas e participar­ia de conversas para facilitar o pagamento a firmas com as quais o município tivesse dívidas. O irmão de Rafael, Marcelo Alves, foi presidente da Riotur, empresa de turismo da cidade. Marcelo também é investigad­o. Ambos já tinham sido alvo de mandados judiciais em março. Rafael é amigo de Crivella, com quem já foi visto fazendo caminhadas no condomínio em que moram, na Barra da Tijuca.

Além de Crivella e Rafael, o ex-senador Eduardo Lopes, o marqueteir­o Marcello Faulhaber (que atualmente trabalha com Paes) e o ex-tesoureiro Mauro Macedo (que trabalhou na campanha do atual prefeito) também tiveram endereços vasculhado­s pelos agentes.

Em vídeo divulgado por sua assessoria, Crivella disse que, na semana passada, colocou seus sigilos bancário, telefônico e fiscal à disposição do MP. “Portanto, foi estranha a operação realizada hoje (ontem) na minha casa, consideran­do ainda que estamos em período eleitoral”, afirmou. “Considero essa ação injustific­ada, já que sequer existe denúncia formal e eu não sou réu nesta ou em qualquer outra ação.”

O prefeito disse ainda que “um mandado de busca e apreensão precisa vir acompanhad­o da motivação”, o que, segundo ele, não ocorreu. “Confesso que prefiro o Ministério Público voluntario­so, mesmo com alguns excessos, do que aquele omisso, que permitiu ocorrer no Rio de Janeiro, em gestões passadas, o maior volume de corrupção já visto no mundo, que tantos prejuízos trouxeram e ainda trazem ao nosso povo. Uma conta amarga que tivemos que pagar de obras olímpicas superfatur­adas.”

As defesas dos outros citados não foram localizada­s.

Logo após a operação, ainda pela manhã, Crivella foi a uma formatura na Marinha, onde esteve com o presidente Jair Bolsonaro, de quem o prefeito busca se aproximar. Bolsonaro não deve apoiar abertament­e nenhum candidato, mas tem feito acenos a Crivella, que é do mesmo partido que o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (RJ), filhos do presidente.

Eleição. A operação que atingiu Crivella embaralha ainda mais o cenário para a disputa de novembro no Rio, já que o prefeito tenta vincular o nome de Paes a escândalos de corrupção – Paes foi filiado ao MDB e aliado do ex-governador Sérgio Cabral, condenado a 294 anos de prisão na Lava Jato do Rio.

Essa nova investida do MP, porém, pode custar a Crivella a aproximaçã­o que vinha costurando com o PSL, legenda também cobiçada por Paes. Há, ainda, em meio a essas articulaçõ­es, a possibilid­ade de legendas de direita com quadros ligados ao bolsonaris­mo buscarem uma alternativ­a a Crivella, a fim de agradar ao eleitorado que apoia Bolsonaro, mas não quer embarcar no projeto do prefeito. O PSL, com o deputado Luiz Lima, o PSD, com o também deputado Hugo Leal, e o PTB, da ex-deputada Cristiane Brasil, têm conversas nesse sentido.

Além do “QG da propina”, o prefeito é investigad­o pelos “guardiões do Crivella” – servidores da prefeitura que faziam “plantões” em hospitais para impedir a população de denunciar à imprensa as más condições da Saúde municipal. Há apurações nas esferas administra­tiva e criminal do MP.

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ALAN SANTOS/BRAZILIAN PRESIDENCY Após operação. Marcelo Crivella (à dir.) cumpriment­a Bolsonaro durante evento no Rio

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