O Estado de S. Paulo

Presidente tomou decisões pensando em seus interesses

- TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Diante da catastrófi­ca revelação de que Donald Trump admitiu ter minimizado o perigo do coronavíru­s, embora estivesse ciente da urgência da ameaça, ele e seus propagandi­stas optaram pela estratégia de que estava agindo como uma espécie de Franklin Roosevelt dos nossos dias, acalmando o país preocupado em impedir um surto de “pânico” autodestru­tivo.

Mas os fatos demonstram que qualquer desejo que Trump tivesse de evitar pânico era, em grande parte, fazer o que ele percebia ser em favor de seus interesses pessoais e políticos, não os do país ou do povo americano. Os defensores de Trump insistem que seu desejo de evitar o pânico demonstra que ele tinha boas razões para minimizar a ameaça do vírus – e estava agindo pelo interesse público. Mas uma olhada na linha do tempo, antes e após sua admissão a Bob Woodward, mostra que, mesmo que Trump quisesse evitar o “pânico”, foi em grande parte por razões egoístas.

Em fevereiro, Trump estava obcecado com o impacto que o noticiário sobre o coronavíru­s provocava nos mercados. E como William Saletan, da revista Slate, demonstrou na época, Trump acredita que os mercados estejam ligados ao seu destino político, sugerindo regularmen­te que os esforços para usar o vírus para agitá-los era obra de inimigos dispostos a prejudicá-lo. A obsessão de Trump com o pânico dos mercados dificultou sua resposta à crise.

Os próprios assessores o incentivar­am a dizer a verdade para que usasse sua autoridade para ajudar o povo americano nos difíceis passos que seriam necessário­s para combater o vírus e limitar a perda de vidas. Ele rejeitou os conselhos durante semanas seguidas. E isso contribuiu para que o vírus saísse de controle, levando ironicamen­te a um fechamento das atividades econômicas ainda pior do que poderia ter sido necessário.

E, mesmo na tentativa de evitar o pânico, Trump subverteu o interesse nacional em nome do seu pessoal. Como sabemos agora, ele o fez sem preocupar-se com o imenso custo em vidas humanas que com certeza sua decisão cobraria.

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