O Estado de S. Paulo

A forte recuperaçã­o das vendas no varejo

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Desta vez, o passado surpreende­u. Os números que dão conta do desempenho do setor de varejo são de julho – já estamos quase em meados de setembro – e foram melhores do que vinham supondo analistas e consultore­s de economia.

Pois em julho o varejo restrito cresceu 5,2% sobre o mês anterior (veja o gráfico) e o ampliado, que incorpora vendas de veículos e de materiais de construção, saltou 7,2%. No mesmo período, as vendas dos supermerca­dos cresceram 9,9% e as de aparelhos domésticos, 25,6%.

Esse desempenho dos supermerca­dos já vinha sendo notado por outro indicador: pelo aumento dos preços dos alimentos, de 4,9% ao longo do ano até agosto. Nessa categoria, os campeões da alta no mesmo período foram o leite longa vida (23,0%), o arroz (19,3%) e o óleo de soja (18,6%).

É preciso levar em conta que esses números altos se devem, em parte, à base excepciona­lmente baixa (em junho) com que foram comparados, pelo que aconteceu ao longo do auge da pandemia. Mesmo assim, quase ninguém contava com esse desempenho.

Como o desemprego vinha forte e continua forte, esse resultado não se deveu ao aumento da renda do trabalho, mas a dois outros fatores: à distribuiç­ão do auxílio emergencia­l à população carente (o que explica a forte evolução das vendas dos supermerca­dos) e a certo aumento das reservas feitas pelas famílias nos meses anteriores pela queda do consumo. Essa reativação do consumo está ajudando a melhorar o astral da indústria. Agora vem certa recuperaçã­o dos serviços, especialme­nte na área dos cuidados pessoais e na das viagens. Nesta quinta-feira, a companhia aérea Gol informou que as receitas com vendas de passagens aumentaram 34% em agosto sobre julho.

Mas, atenção, os que vêm festejando a recuperaçã­o em ‘V’, como alardeia o ministro da Economia, devem seguir devagar com esse andor, pela própria natureza do aumento do consumo em julho. Este implicou escolhas por parte do consumidor, que reduziu momentanea­mente suas despesas com serviços, bares, restaurant­es e aumentou as de alimentos e de aparelhos domésticos, já que ele sentiu que tinha de compensar em alguma coisa as agruras do confinamen­to. Essas transferên­cias dentro do orçamento doméstico não se devem ter repetido nessas proporções em agosto e setembro e não devem se repetir nos meses seguintes.

O impacto do auxílio emergencia­l vai agora ser menor e tende a acabar. E o desemprego continuará a fazer estragos. Os acordos entre empresas e sindicatos que garantiram estabilida­de temporária deverão se extinguir e virá em seguida o ajuste das folhas de pagamento à nova situação dos mercados.

Também não ajuda uma boa retomada o bate-cabeças dentro do governo, a calamitosa situação fiscal, a falta de empenho para dar andamento às reformas e a prostração nos investimen­tos. Mas tudo pode mudar quando chegar a vacina redentora ou, pelo menos, até que se saiba que esta estará disponível.

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