IBGE apura elevação de 5,2% em julho
Turbinado pelo auxílio emergencial pago pelo governo, as vendas do varejo registraram alta de 5,2% em julho, na comparação com junho, e passaram a operar 5,3% acima do patamar que existia em fevereiro – antes do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. Também ficaram a apenas 0,1% do patamar histórico alcançado em outubro de 2014.
Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Esse ano está muito atípico”, resumiu Cristiano Santos, analista da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE.
As atividades de material de construção, móveis e eletrodomésticos, artigos farmacêuticos e supermercados estão todas em ritmo superior ao do período pré-crise sanitária.
O resultado surpreendeu analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma alta mediana de 0,9%. Santos lembra que as altas no varejo em maio e junho se justificavam pela base de comparação baixa, mas que o avanço em julho para patamares ainda mais elevados representaram, de fato, uma surpresa.
“Não sei se é sustentável. Não tenho como afirmar algo nesse sentido, estamos num momento diferente de todos os anos. É um numero bastante surpreendente, é um contexto de aquecimento, de crescimento, e que não é homogêneo”, disse ele.
Cautela. O estrategista-chefe do Banco Mizuho na América Latina, Luciano Rostagno, concorda que os dados devem ser analisados com cautela, porque estão inflados por fatores temporários. Ele espera alta de 7% no PIB no terceiro trimestre ante o segundo trimestre, mas reforça que a recuperação econômica tende a perder força em 2021, refletindo mais fielmente as condições deterioradas do mercado de trabalho. “Fica evidente que esse movimento está relacionado ao auxílio emergencial. Em classes mais vulneráveis, o benefício gerou aumento de renda.”
A atividade de supermercados chegou a julho 8,9% acima do patamar pré-pandemia, enquanto material de construção está 13,9%. Móveis e eletrodomésticos estão 16,9% acima de fevereiro e artigos farmacêuticos, 7,3%.
Por outro lado, o setor de vestuário está 32,7% abaixo do patamar pré-pandemia; veículos estão 19,7% aquém; livros e papelaria, 26,2% inferiores; combustíveis, 9,6% abaixo; e equipamentos e materiais de informática e escritório, 6%.
“Se a gente tivesse um ano normal, o que se esperaria? Que se tivesse homogeneidade entre as atividades. Se o varejo está atingindo o pico histórico, era de se imaginar que a atividade como um todo estivesse crescendo. Nesse caso, não, a gente tem uma amplitude grande entre essas variações”, observou Santos./