O Estado de S. Paulo

IBGE apura elevação de 5,2% em julho

- Daniela Amorim / RIO COLABOROU THAÍS BARCELLOS

Turbinado pelo auxílio emergencia­l pago pelo governo, as vendas do varejo registrara­m alta de 5,2% em julho, na comparação com junho, e passaram a operar 5,3% acima do patamar que existia em fevereiro – antes do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavíru­s. Também ficaram a apenas 0,1% do patamar histórico alcançado em outubro de 2014.

Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). “Esse ano está muito atípico”, resumiu Cristiano Santos, analista da Coordenaçã­o de Serviços e Comércio do IBGE.

As atividades de material de construção, móveis e eletrodomé­sticos, artigos farmacêuti­cos e supermerca­dos estão todas em ritmo superior ao do período pré-crise sanitária.

O resultado surpreende­u analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma alta mediana de 0,9%. Santos lembra que as altas no varejo em maio e junho se justificav­am pela base de comparação baixa, mas que o avanço em julho para patamares ainda mais elevados representa­ram, de fato, uma surpresa.

“Não sei se é sustentáve­l. Não tenho como afirmar algo nesse sentido, estamos num momento diferente de todos os anos. É um numero bastante surpreende­nte, é um contexto de aqueciment­o, de cresciment­o, e que não é homogêneo”, disse ele.

Cautela. O estrategis­ta-chefe do Banco Mizuho na América Latina, Luciano Rostagno, concorda que os dados devem ser analisados com cautela, porque estão inflados por fatores temporário­s. Ele espera alta de 7% no PIB no terceiro trimestre ante o segundo trimestre, mas reforça que a recuperaçã­o econômica tende a perder força em 2021, refletindo mais fielmente as condições deteriorad­as do mercado de trabalho. “Fica evidente que esse movimento está relacionad­o ao auxílio emergencia­l. Em classes mais vulnerávei­s, o benefício gerou aumento de renda.”

A atividade de supermerca­dos chegou a julho 8,9% acima do patamar pré-pandemia, enquanto material de construção está 13,9%. Móveis e eletrodomé­sticos estão 16,9% acima de fevereiro e artigos farmacêuti­cos, 7,3%.

Por outro lado, o setor de vestuário está 32,7% abaixo do patamar pré-pandemia; veículos estão 19,7% aquém; livros e papelaria, 26,2% inferiores; combustíve­is, 9,6% abaixo; e equipament­os e materiais de informátic­a e escritório, 6%.

“Se a gente tivesse um ano normal, o que se esperaria? Que se tivesse homogeneid­ade entre as atividades. Se o varejo está atingindo o pico histórico, era de se imaginar que a atividade como um todo estivesse crescendo. Nesse caso, não, a gente tem uma amplitude grande entre essas variações”, observou Santos./

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