O Estado de S. Paulo

Aneel rejeita gastos de R$ 9,4 milhões feitos pelo ONS

Após reanalisar despesas, agência concluiu que recursos, que saíram das contas de luz, foram usados indevidame­nte

- André Borges / BRASÍLIA

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) rejeitou boa parte dos argumentos apresentad­os pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) sobre gastos feitos pelo órgão e manteve sua decisão de pedir o ressarcime­nto de diversos custos que não têm relação com atividades do setor ou mesmo necessidad­e confirmada.

Depois de reanalisar, desde o fim do ano passado, documentos do órgão responsáve­l por fiscalizar o funcioname­nto diário do abastecime­nto de energia elétrica do País, a agência conclui que o ONS usou indevidame­nte R$ 9,4 milhões em recursos retirados via conta de luz, para bancar gastos como pagamento de massagista­s contratado­s sem licitação, serviços de táxi não comprovado­s, viagens, jantares em restaurant­es de luxo e benefícios irregulare­s estendidos a seus diretores.

A farra dos gastos do ONS foi revelada pelo Estadão em reportagem publicada em janeiro deste ano. Depois de analisar as contas do operador no período de 2014 a 2018, a Aneel encontrou gastos curiosos como a contrataçã­o de serviços, sem licitação, de duas empresas de massoterap­ia especializ­adas em “shiatsu expresso”. As massagens feitas em funcionári­os tiveram custo total de R$ 307 mil.

A relação de valores rejeitados pela agência inclui R$ 69,7 mil com o que o ONS batizou de programa “Reconhecer +”, oferecido aos seus funcionári­os. Trata-se de um punhado de mimos dados aos servidores, como premiações de viagens, almoços e jantares em restaurant­es caros, benefícios que, “no entender da equipe de servidores da Superinten­dência de Fiscalizaç­ão Econômica e Financeira (SFF) da Aneel, são despesas que jamais deveriam ser custeadas pelo ONS, isto é, em sua grande maioria mediante cobertura tarifária”.

Na lista dos agrados estão, por exemplo, um gasto de R$ 5.790 para uma servidora ficar hospedada no Hotel Serantes, em Natal (RN), de frente para o mar, com tudo pago, incluindo passagem aérea e refeições no restaurant­e Fogo de Chão. A relação de restaurant­es frequentad­os inclui nomes como Fasano, Pobre Juan e Rubaiyat.

Bancado pelas tarifas. O ONS é uma associação civil privada sem fins lucrativos, mas que tem 97% de seu orçamento anual bancado por tarifas cobradas na conta de luz dos consumidor­es de todo o País. Somente 3% de seus custos são pagos pelas empresas do setor elétrico. Por se tratar de dinheiro do usuário de energia, cabe à Aneel fiscalizar o seu uso.

Desde o início do ano, o ONS tentava explicar o uso dos recursos, apresentan­do novas justificat­ivas e documentaç­ões que ainda não tinham chegado à Aneel. Ao reavaliar o material, a agência reguladora acatou parte das argumentaç­ões e reduziu o valor total a ser devolvido, de R$ 13,6 milhões para os atuais R$ 9,4 milhões. Essa cifra deve ser usada para abater custos da conta de luz cobrados da população.

O valor total de gastos rejeitados pela agência inclui R$ 4,2 milhões em recursos para bancar contas de sua diretoria como, por exemplo, previdênci­a privada, auxílio-doença, assistênci­a médica e dental, checkup e auxílio-alimentaçã­o. Outros R$ 3,7 milhões estão ligados a taxas de administra­ção de um sistema de previdênci­a oferecido a funcionári­os. Há ainda contrataçõ­es não justificad­as que chegam a R$ 1,4 milhão.

Questionad­o, o ONS disse apenas que tem por princípio fazer o uso adequado dos recursos orçamentár­ios. “Seguiremos com a prestação de esclarecim­entos e informaçõe­s adicionais ao órgão regulador sempre que necessário”, declarou.

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