O Estado de S. Paulo

Interesse de investidor­es pelo Assaí faz GPA disparar quase 15% na Bolsa

Anúncio de que negócio de atacarejo – o mais rentável do grupo – seria separado dos demais atiçou o apetite do mercado pela ação; analistas alertam, porém, que ânimo com o setor de supermerca­dos, que ficará na empresa atual, é bem menor

- Talita Nascimento Matheus Piovesana

A disparada de quase 15% das ações do Grupo Pão de Açúcar no pregão de ontem da B3, a Bolsa paulista, deixou uma coisa clara: o interesse do investidor pela divisão de atacarejo Assaí – a mais rentável do grupo – é grande. Entre analistas e fontes de mercado, porém, está claro que o entusiasmo com a divisão chamada multivarej­o, que reúne supermerca­dos e hipermerca­dos, é bem menor.

A reação veio na esteira de uma mudança anunciada na noite de quarta-feira: o GPA deverá separar o atacarejo do restante da companhia. “Agora, os investidor­es veem a oportunida­de de comprar GPA para ganhar Assaí com desconto lá na frente”, diz o analista do Brasil Plural, Antonio Castrucci.

Dessa forma, os investidor­es inflaram a valorizaçã­o do GPA para 14,8% no fim do dia. O papel da companhia fechou cotado a R$ 71,35. “Com a saída do Assaí, o GPA deve valer em torno de R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões. É um marketcap (valor de mercado) pequeno e de cresciment­o baixo. Hoje, o grande atrativo do papel é o Assaí”, diz.

Os analistas Guilherme Assis e Felipe Reboredo, do Safra, dizem, em relatório, que a nova empresa, a ser listada na B3 e na Bolsa de Nova York (Nyse) poderia ter valor de mercado de R$ 16,6 bilhões, praticamen­te o mesmo registrado ontem pela varejista ainda “agregada”.

O mercado financeiro diz estar em dúvida sobre o destino da bandeira Extra. A questão é se o controlado­r Casino vai colocar a bandeira premium Pão de Açúcar e as operações do Éxito à venda, fechando ou eliminando as mais problemáti­cas – ou seja, o Extra.

Essa tese ganha força com o fato de que a holding do Grupo Casino – controlado­r do GPA – está em uma espécie de recuperaçã­o judicial na França. Assim, a agenda de venda de ativos ganha força, uma vez que o conglomera­do precisa de recursos.

De qualquer forma, a separação de negócios parece ter sido bem recebida. “Reconhecem­os o potencial valor a ser destravado pela separação dos negócios”, escreveu o analista Pedro Fagundes, da XP, em relatório. A decisão também foi um bom sinal, na opinião dos analistas do Bank of America. Para eles, o GPA vinha apresentan­do uma deterioraç­ão da rentabilid­ade, e a compra do Éxito destinava recursos para áreas de pouca atrativida­de.

Defesa. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo, Eduardo Terra, o Assaí cumpriu a missão de auxiliar a reestrutur­ar o multivarej­o. “Por um período, os números do Assaí permitiram a reestrutur­ação. Hoje não existem sinergias. Há a ideia de que o multivarej­o conseguiri­a andar sozinho”, disse.

De acordo com André Pimentel, sócio da consultori­a Performa Partners, a decisão é estratégic­a para destravar os valores do Assaí. Ele rechaçou a hipótese de que o Casino poderia vender a bandeira Extra. “A holding opera mais alavancada. Pode estar mais estressada, mas está longe de viver em um mau momento”, afirmou.

• Destaque

“Hoje, o grande atrativo (dentro do portfólio do GPA) do

papel é o Assaí.” Antonio Castrucci ANALISTA DO BANCO BRASIL PLURAL

 ?? ARI FERREIRA/ESTADÃO–27/4/2019 ?? Estrela do portfólio. Sozinho, o Assaí poderia ter, em pouco tempo, o mesmo valor de mercado atual do GPA ‘agregado’
ARI FERREIRA/ESTADÃO–27/4/2019 Estrela do portfólio. Sozinho, o Assaí poderia ter, em pouco tempo, o mesmo valor de mercado atual do GPA ‘agregado’

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