O Estado de S. Paulo

De volta à casa dos pais, depois da independên­cia

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Formatura, início da vida profission­al, morar sozinho. Esses marcos foram interrompi­dos para diversos jovens que estavam começando a experiment­ar a vida adulta em 2020 – e também para aqueles que já estavam curtindo o começo da independên­cia.

É o caso do curitibano Gustavo Klimczak, publicitár­io de 28 anos que vivia em um apartament­o alugado desde o fim de 2019 na capital do Paraná, mas decidiu voltar a morar com os pais e o irmão depois de mudanças profission­ais e pessoais durante a pandemia.

“Fui desligado do cargo de coordenado­r de marketing de uma agência no final de abril. Acho que foi o momento mais difícil da minha carreira profission­al”, diz ele. “Nunca tive dificuldad­e em encontrar emprego – tive muitos privilégio­s, com intercâmbi­o, inglês fluente, faculdade. Na pandemia foi a primeira vez que eu não consegui absolutame­nte nada por meses.”

Diferentem­ente daqueles que puderam recorrer a uma segunda casa na praia ou no campo para um isolamento mais agradável, muita gente precisou diminuir os gastos nesse período por conta de redução de jornada e salário, ou mesmo demissão.

Foram 3,1 milhões de brasileiro­s que perderam o emprego nas 12 semanas levantadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) entre maio e julho, uma alta de 31% no período.

Para os jovens, isso pode causar um “efeito cicatriz” na vida profission­al, definiu a Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) em agosto deste ano. Uma pesquisa da OIT realizada em maio com 12 mil jovens de 112 países diferentes mostrou que um em cada seis jovens com menos de 24 anos parou d e trabalhar durante a pandemia.

Isso afetou diretament­e a moradia. Arcar com os custos do aluguel pesou muito – consideran­do que em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro o gasto correspond­e a metade da renda média dos habitantes, de acordo com uma pesquisa do fim de 2019 realizada pelo QuintoAnda­r.

Tanto é que mais da metade (51%) dos inquilinos da cidade de São Paulo pediu novo acordo de aluguel no mês de junho de 2020, com redução do valor, segundo o Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP). É o maior índice já registrado pelo Secovi-SP.

Mas, para Klimczak, o trabalho não foi o único motivador para a decisão. Mesmo depois de se restabelec­er financeira­mente, abrindo a própria agência e fechando trabalhos com alguns clientes, o publicitár­io vai esperar o período de isolamento acabar para pensar em viver de forma independen­te de novo. O que pesou foi a saúde mental.

“Eu estava tendo uma frustração muito grande de ficar sozinho todos os dias, não encontrar pessoas, não sair de casa. A parte psicológic­a ficou muito abalada por morar sozinho e não ver ninguém”, relata o publicitár­io.

Agora, o plano é voltar a alugar um apartament­o quando o isolamento acabar de forma oficial. Mas muita coisa deve ser diferente, diz ele. “Minha vida mudou completame­nte com a pandemia, principalm­ente porque eu sempre almejei fazer home office. Tenho uma grande paixão por viagens e o trabalho presencial acaba impossibil­itando isso. A pandemia abriu algumas portas, principalm­ente essa possibilid­ade de ficar totalmente remoto e unir as duas coisas – viajar, conhecer outros países – com a parte profission­al.”

A PANDEMIA ABRIU ALGUMAS PORTAS, PRINCIPALM­ENTE ESSA POSSIBILID­ADE DE FICAR TOTALMENTE REMOTO E UNIR AS DUAS COISAS – VIAJAR, CONHECER OUTROS PAÍSES – COM A PARTE PROFISSION­AL

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O curitibano Gustavo Klimczak, que morava sozinho, voltou para a casa dos pais na crise

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