O Estado de S. Paulo

MUDANÇA DE ROTINA EMPURRA BRASILEIRO PARA O EMPREENDED­ORISMO

Desemprego tem despertado novas paixões profission­ais

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Empreender está entre os principais desejos dos brasileiro­s. A estimativa é que 7 em cada 10 pessoas queiram ter o próprio negócio e a pandemia da covid-19 acelerou a realização desse sonho para muitos trabalhado­res que perderam suas ocupações. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), mostram que no segundo trimestre deste ano o País passou a ter mais 8,9 milhões de desocupado­s. Diante deste cenário de desemprego, muitos encontrara­m no empreended­orismo a saída para tirar o sustento da família e descobrira­m novas paixões profission­ais e já reavaliam a volta para o antigo emprego.

Lidar com as questões emocionais da perda pode ser um desafio, conforme explica a psicoterap­euta Sabrina Amaral. “O que separa as pessoas que reagem bem daquelas que ficam travadas no problema começa na percepção sobre os fatos”, afirma. Para ela, ter a atitude mental positiva em relação ao problema faz toda a diferença. “Claro que é natural nos entristece­rmos por um período e termos uma espécie de ‘luto’ pelo que perdemos. Se as pessoas se apegam à tristeza podem entrar num looping de vitimizaçã­o, baixa autoestima e pessimismo, o que as levará para uma sensação de impotência para lidar com o problema”, destaca.

DJ, ator e trapezista, Gabriel Castro, 34, viu suas atividades profission­ais serem afetadas bem no início da pandemia e resolveu arregaçar as mangas e colocar a mão na massa. “Quando começou o isolamento social, achei que ia ficar uns dois meses em casa”, comenta. As incertezas quanto à volta ao trabalho e o tempo livre fizeram Castro se dedicar a fazer pães para compartilh­ar com os amigos e o que começou como um passatempo em abril foi se profission­alizando e hoje o dono do slogan “O pão que o viado amassou”, que funciona em Curitiba, já tem uma padaria aberta e uma escola de panificaçã­o, que teve de fechar as portas devido à pandemia.

“Estou produzindo entre 100 e 120 pães por dia, com toda a venda sendo realizada pelas mídias sociais”, diz. “Gosto de todas as ocupações que tenho e gostaria de continuar com os alunos do teatro, mas sei que a retomada será difícil e essa história de fazer os pães está sendo gostosa de contar. Pretendo continuar com ela mesmo depois que tudo isso passar”, enfatiza Castro.

MUDANÇA RADICAL

A técnica em química Marta Rejane, 43, viu sua vida virar de ponta-cabeça quando a pandemia começou. Ela tinha acabado de conseguir uma ótima oportunida­de de trabalho em uma indústria química em Balneário Camboriú (SC) e resolveu se mudar de Curitiba para o litoral catarinens­e. Mas ainda no período de experiênci­a acabou sendo desligada da empresa.

Marta, que abriu mão de voltar para a cidade onde nasceu, resolveu abrir o próprio negócio. Optou pela compra de uma franquia da Limpeza com Zelo, rede de limpeza de pequenos escritório­s e residência­s. O negócio começou a operar em junho e a empreended­ora está animada com os resultados iniciais. “Foi um susto, mas na medida do possível agora está tudo bem”, diz Marta. Animada com as oportunida­des que ainda pode ter, ela afirma que não pretende voltar para sua antiga função e vai seguir investindo no novo negócio.

Uma dica dos especialis­tas para quem está começando é apostar nas mídias sociais para divulgar seus produtos e serviços. Criar páginas atrativas, responder rapidament­e aos clientes, divulgar nos grupos dos bairros são algumas formas que podem ser usadas para ampliar as vendas. Entretanto, não respeitar a privacidad­e do cliente e sobrecarre­gar os consumidor­es com mensagens a todo momento pode afetar negativame­nte o negócio.

ESSA HISTÓRIA DE FAZER PÃES ESTÁ SENDO GOSTOSA DE CONTAR GABRIEL CASTRO, 34

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Gabriel Castro, 34, descobriu durante o isolamento que seus pães passaram a ser cobiçados por amigos e novos clientes

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