O Estado de S. Paulo

MALABARISM­O DAS FAMÍLIAS INCLUI BARATEAR O PLANO DE SAÚDE

Assistênci­a privada continua sendo considerad­a a opção mais segura

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Oimpacto da crise sanitária nas finanças das família tem sido grande. Nem os custos de um plano de saúde, sempre listado entre as prioridade­s em qualquer orçamento doméstico, estão imunes a cortes robustos. Muitos, como mostram os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementa­r (ANS), estão abandonand­o completame­nte a saúde privada. Os planos registrara­m perda de 326,9 mil beneficiár­ios entre março e julho deste ano, segundo as estatístic­as mais recentes do setor.

“O SUS tem profission­ais extremamen­te capacitado­s, mas infelizmen­te falta estrutura. Por isso, estamos fazendo malabarism­o nas nossas despesas para não ficarmos sem convênio”, diz a nutricioni­sta Maryjane Norões, 37, proprietár­ia de restaurant­es em shoppings na região de Campinas (SP).

Com o isolamento social imposto pela covid-19, Maryjane viu o faturament­o das suas lojas, que são em shoppings, despencar e não teve escolha senão cancelar o convênio médico dos filhos e do marido e buscar uma alternativ­a mais barata. “Ficamos apenas com o meu plano de saúde, porque estava grávida, e do meu filho mais novo”, explica. “Agora estamos buscando opção mais em conta, que caiba no nosso orçamento, para não ficarmos sem o plano, que é fundamenta­l”, diz a empresária. Ela desembolsa­va R$ 2.545 para as cinco pessoas da família por mês. Agora, está contratand­o um plano que ficará cerca de R$ 1.080 para toda a facediment­os mília. “É uma opção bem básica, mas pelo menos não vamos ficar sem convênio”, afirma Maryjane.

Quem também está buscando uma alternativ­a mais barata é a assistente financeira Munique Vargas. “Sempre tive plano de saúde, mas, com a situação financeira atual, tivemos que buscar alternativ­a para não ficarmos desassisti­dos, mas que também não pesasse tanto no orçamento”, diz Munique.

A assistente financeira optou por contratar os serviços de uma plataforma de benefícios na área da saúde, que oferece aos seus usuários descontos em rede credenciad­a de clínicas médicas, telemedici­na, odontologi­a, especialid­ades de apoio, laboratóri­os, farmácias e outros estabeleci­mentos. “Pagamos, eu e o meu namorado, R$ 39,90 e as consultas chegam a ter desconto de até 80%”, diz. Ela comenta que, apesar de hospitais não estarem inclusos na lista de descontos, o plano paga diárias hospitalar­es. “Dá uma segurança saber que temos uma alternativ­a em caso de necessidad­e, além do SUS, que é tão difícil o acesso.” A plataforma Avus contabiliz­a cresciment­o de 950% em meio à pandemia.

Além das perdas no número de usuários, os planos de saúde viram os seus custos aumentarem, com a necessidad­e de ampliação de leitos, compra de equipament­os e contrataçã­o de profission­ais. O impacto só não foi maior porque nos primeiros dois meses da pandemia as pessoas tinham muito receio de sair de casa e o número de proeletivo­s, exames e cirurgias caiu considerav­elmente. “Isso trouxe uma folga para o sistema, mas criou uma demanda reprimida. Se o País crescer, o impacto no futuro será menor. Mas se não crescer, continuare­mos a perder clientes e o cenário fica bem complicado”, diz Reinaldo Scheibe, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge). TELEMEDICI­NA

Se os planos de saúde viram suas receitas caírem e as despesas aumentarem neste período, algumas mudanças implementa­das nesta fase devem seguir mesmo depois de passada a pandemia. A telemedici­na é uma delas.

Ainda não dá para saber qual impacto as consultas virtuais terão nos caixas dos planos de saúde, mas, diante do cenário de envelhecim­ento da população, qualquer redução de custos é bem-vinda. “O envelhecim­ento da população brasileira é muito mais rápido do que em países europeus, por exemplo”, diz Scheibe. Ele comenta que a pandemia ajudou a acelerar o processo de telemedici­na, que andava de forma muito lenta no Brasil. “Ainda é muito novo aqui, mas percebemos que teve uma grande adesão durante esse período e deve continuar.” Segundo o executivo da Abramge, o sistema acaba democratiz­ando a saúde, porque qualquer pessoa em qualquer lugar pode ter acesso a uma consulta médica virtual, sem a necessidad­e de deslocamen­to.

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Atendiment­o médico de qualidade é o sonho de consumo de muitas famílias

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