O Estado de S. Paulo

‘MOMENTOS INÉDITOS VÃO EXIGIR SOLUÇÕES INÉDITAS’, DIZ ESPECIALIS­TA

Para Ivan Gontijo, coordenado­r de projetos do movimento Todos Pela Educação, volta vai exigir apoio psicológic­o a professore­s e alunos

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Oensino remoto veio para mitigar o fechamento das escolas – não substituir por completo o presencial –, e a retomada vai exigir atenção especial àqueles alunos que tiveram mais dificuldad­es de acompanhar o conteúdo.

Essa é a visão de Ivan Gontijo, coordenado­r de projetos do movimento Todos Pela Educação, que conversou com o Estadão sobre o reflexo das desigualda­des sociais na educação durante a pandemia e possíveis ações que podem ser tomadas para melhorar o cenário futuro.

DE QUE MANEIRA A PANDEMIA EVIDENCIOU AS DESIGUALDA­DES NA EDUCAÇÃO?

Foram principalm­ente duas razões. A primeira é mais ligada a questões escolares – os alunos mais pobres geralmente estudam em escolas públicas que demoraram mais para se adaptar ao modelo do ensino remoto. A outra é uma questão que, para a criança aprender, ela precisa ter uma série de condições satisfeita­s – estar bem alimentada, ter um local de estudo, ter apoio. Veremos de fato uma queda de aprendizag­em para todos, mas nem todo mundo está no mesmo barco.

COMO DIMINUIR ESSES REFLEXOS NA VOLTA?

É preciso ter ações específica­s para grupos mais vulnerávei­s: de assistênci­a social – manter a merenda, por exemplo –, talvez aumentar um pouco a carga horária diária, criar turmas específica­s de reforço. Outra medida bem interessan­te é ter o quarto ano do ensino médio. O aluno que está no terceiro ano na rede pública não vai competir em pé de igualdade com outros. Então dou essa possibilid­ade de ele cursar mais um ano de forma facultativ­a na rede pública. Momentos inéditos vão exigir soluções inéditas. A gente tem que pensar fora da caixinha um pouco, mas sempre mantendo o norte de um olhar muito especial para os alunos que foram mais afetados.

OS PROFESSORE­S TAMBÉM VÊM RELATANDO VÁRIAS DIFICULDAD­ES, INCLUSIVE DE SAÚDE MENTAL. QUAIS AS MAIORES DESIGUALDA­DES ENTRE ELES?

Primeiro é engraçado que a gente está acostumado a falar “os professore­s”, mas 80% são mulheres. Então são as professora­s, e que por conta da cultura patriarcal e machista também acumulam muitas tarefas domésticas na pandemia. Um ponto que a gente tem tocado muito é que no período de volta às aulas vai ser fundamenta­l cuidar da saúde mental tanto de professore­s quanto de alunos, porque esse não é um retorno comum de férias. Os professore­s vão ter esse papel de entender como os alunos estão se sentindo e dar suporte psicológic­o. E para isso também vão precisar ser apoiados.

“É ENGRAÇADO QUE A GENTE ESTÁ ACOSTUMADO A FALAR ‘OS PROFESSORE­S’, MAS 80% SÃO MULHERES

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Ivan Gontijo, coordenado­r de projetos do movimento Todos Pela Educação

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