O Estado de S. Paulo

Jogando a carapuça

- RÊ PROVA Renata Mesquita

Não vamos nos enganar, está todo mundo confuso sobre se podemos ou não sair de casa. Por mais que você fale, escreva e milite que devemos continuar de quarentena (me coloco nesta turma), a tentação de fazer algumas pequenas indulgênci­as da vida “normal” surge no nosso imaginário a cada dia de forma mais real. E está tudo bem, meu bem. Afinal, somos humanos e precisamos da troca com o outro e do contato físico. É, afinal, uma questão fisiológic­a (ainda que, ao mesmo tempo, esteja uma delícia poder ficar em casa 99% do tempo e, pela primeira vez, ter a melhor desculpa para isso).

Aqui do meu confinamen­to – já bem menos confinado do que em meados de junho –, ao ver as pessoas lotarem as praias e bares nos últimos fins de semana, minha reação é de horror – mando fotos e notícias nos grupos de amigos e comento: “Meu Deus, o povo está muito louco mesmo, que absurdo”, e uma enxurrada de mensagens no mesmo teor seguem em resposta.

Sejamos sinceros, criticamos, sim. Mas, no fundo, o que sinto é que o exagero dos outros libera nós mesmos para pequenos “abusos”, menos, digamos, agressivos. “Só vim encontrar uma amiga na casa dela para tomar um vinho, ela num sofá e eu no outro, que mal tem?” PS.: Frase no mesmo grupo que criticou as aglomeraçõ­es nos bares da Vila Madalena. Lá em maio você faria isso? Provável

que não. Os limites estão confusos sim, e no fundo no fundo (e sem políticas e diretrizes públicas unificadas fica ainda mais difícil, cof, cof…) sabemos bem o que devemos fazer (usar máscaras o tempo todo, manter um distanciam­ento, evitar aglomeraçõ­es...). Não é jogar a toalha para cima só porque o outro jogou. Sinta-se reprovado quem a carapuça servir.

TODA SEMANA, RENATA MESQUITA VAI REPROVAR ABSURDOS VISTOS POR AÍ NESSA NOVA ROTINA IMPOSTA PELA PANDEMIA

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