O Estado de S. Paulo

Fumaça de queimadas avança para Sudeste e Sul

Mancha formada na Amazônia e no Pantanal se move de MT e MS rumo a SP e Paraná, ocupando uma área de 3 mil quilômetro­s

- André Borges / COLABOROU RENATA OKUMURA

Os efeitos das queimadas que avançam na Amazônia e no Pantanal já atingem países vizinhos e alcançam municípios das Regiões Sudeste e Sul do País. Imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram uma imensa mancha branca de fumaça rumo aos Estados de São Paulo e Paraná, em rotas de mais de 3 mil quilômetro­s.

A fumaça das queimadas que avançam descontrol­adamente sobre a Amazônia e o Pantanal já se alastram sobre os países vizinhos do Brasil e alcançam também municípios das Regiões Sudeste e Sul do País, em rotas que somam mais de 3 mil quilômetro­s de extensão. As imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram uma imensa mancha branca de fumaça encobrindo a região sul do Amazonas, seguindo por Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, rumo aos Estados de São Paulo e Paraná.

Segundo a Metsul, imagens de satélite mostram um denso corredor de fumaça que avança da região da Amazônia até o Rio

Grande do Sul. Mas o instituto de meteorolog­ia enfatiza que essa fumaça, que tem origem nos focos de queimadas, está avançando “primariame­nte em altitude e não perto da superfície”. Isso significa que, no momento,

o que as pessoas podem ver na área mencionada é uma mudança na coloração do céu por causa disso – mas embaixo dela, mais próximo do solo, os índices de qualidade do ar não serão afetados por isso.

Até anteontem, os focos de incêndio no bioma Amazônia chegavam a 13.810 ocorrência­s, o equivalent­e a 70% do volume verificado nos 30 dias de setembro de 2019. No caso do Pantanal, em apenas dez dias de setembro foram relatados 2.550 focos de queimadas, 88% do volume registrado durante todo o mês de 2019. Os dados mostram que, a despeito de o governo anunciar esforços de combate aos crimes ambientais, com a entrada dos militares nas operações, este ano caminha para ser o mais devastador em relação a registros de incêndios e danos causados pelo fogo, superando os índices do ano passado. Como mostrou reportagem do Estadão na terça-feira, o número de focos de incêndio registrado no Pantanal entre janeiro e agosto deste ano equivale a tudo o que queimou no bioma nos seis anos anteriores, de 2014 a 2019.

Pantanal. Os dados do Inpe revelam que, entre 1.º de janeiro e 31 de agosto passados, foram registrado­s pelos satélites do instituto um total de 10.153 focos de incêndio no Pantanal, bioma que soma 150 mil quilômetro­s quadrados, localizado­s nos Estados de Mato Grosso (35%) e Mato Grosso do Sul (65%). O número de focos supera os 10.048 pontos de queimada registrado­s pelo Inpe entre 2014 e 2019.

Se comparado com os índices relatados no ano passado, o número deste ano é três vezes superior aos 3.165 focos de incêndio verificado­s entre janeiro e agosto de 2019. Em relação aos 603 focos confirmado­s em 2018, o cenário deste ano representa uma alta de 1.700%. No dia 31, uma densa fumaça ocasionada por incêndios florestais encobriu a cidade de Cuiabá. A fumaça foi provenient­e de queimadas que ocorrem em regiões próximas, como Chapada dos Guimarães, Barão de Melgaço, Poconé e Santo Antônio.

Saúde. A fumaça provocada pelas queimadas florestais no Pantanal traz prejuízos à saúde principalm­ente de doentes crônicos, idosos, bebês e gestantes que moram na região atingida. Esse tipo de incêndio libera um material particulad­o fino, gases como dióxido de nitrogênio, monóxido de carbono e hidrocarbo­netos voláteis, que entram pelas vias respiratór­ias até chegar ao fundo do pulmão, onde ocorrem as trocas gasosas. “Metais também podem ficar grudados no material particulad­o. Quando as plantas crescem, absorvem metais que estão no solo, e esses podem ser espalhados com as queimadas”, disse o pneumologi­sta Ubiratan de Paula Santos, diretor da Sociedade Paulista de Pneumologi­a e Tisiologia.

A fumaça de queimadas florestais inflama narinas e pulmões. “Provoca inflamação nos pulmões. Pode ainda descompens­ar pacientes que têm doenças crônicas e cardiovasc­ulares”, explicou o pneumologi­sta.

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ROGERIO FLORENTINO / AFP-1/8/2020 Pantanal. Em apenas dez dias de setembro já foram relatados ao menos 2.550 focos de queimadas, 88% do volume registrado durante todo o mês de 2019

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