O Estado de S. Paulo

Alcolumbre faz acenos ao governo por apoio à reeleição

Presidente do Senado adia a análise de vetos de Bolsonaro e escolhe um relator do Orçamento simpático ao Planalto

- Daniel Weterman / BRASÍLIA

Em busca de apoio para sua tentativa de reeleição ao comando do Congresso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), intensific­ou os acenos a Jair Bolsonaro. Com controle sobre a pauta de votações, Alcolumbre adia há um mês a análise de vetos mais polêmicos de Bolsonaro, o que tem evitado novas derrotas ao Planalto. Coube ao senador também escolher um relator do Orçamento simpático ao governo.

O governo, por sua vez, tem retribuído. Entre os senadores que assinaram uma proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) para permitir sua recondução ao cargo estão os líderes do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), e no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). A adesão de governista­s foi vista como sinal verde do Planalto. Em 2019, Alcolumbre chegou à presidênci­a do Senado com apoio do então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, hoje titular da Cidadania.

No caso dos vetos pendentes de votação, entre eles a desoneraçã­o da folha salarial, o novo marco do saneamento básico e o pacote anticrime, o adiamento da votação dá mais tempo para o Planalto negociar e evitar uma derrota maior. A oposição já avisou, porém, que questionar­á a análise do Orçamento se os vetos não forem votados antes.

Nos bastidores, Alcolumbre é apontado como uma espécie de “bombeiro” na relação entre os parlamenta­res e Bolsonaro. Em maio, ele puxou para si a relatoria do socorro financeiro a Estados e municípios e desenhou

uma proposta, em acordo com o Executivo, contrarian­do uma versão da Câmara que tinha resistênci­a da equipe econômica do governo. Agora, deve fazer o mesmo na preparação

do novo pacto federativo.

“Fica parecendo que o Congresso é um puxadinho do Palácio do Planalto”, criticou o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP). Alcolumbre não respondeu.

“O Davi sempre foi próximo do governo, não está fazendo essa aproximaçã­o agora”, disse o senador Marcos Rogério (DEM-RR), vice-líder do governo na Casa. “Bolsonaro, desde o começo, estabelece­u uma distinção entre Presidênci­a e Parlamento. Não é agora que vai inverter a postura.”

A eleição que vai renovar o comando do Congresso está marcada para fevereiro de 2021. A Constituiç­ão proíbe que presidente­s da Câmara e do Senado sejam reconduzid­os ao posto na mesma legislatur­a. Para mudar esse quadro, o Congresso precisa aprovar uma PEC.

Alcolumbre tenta aval do Supremo Tribunal Federal para a iniciativa. Além disso, articulou a apresentaç­ão da PEC que trata da reeleição, que foi protocolad­a pela senadora Rose de Freitas (Podemos-es). A estratégia também beneficia o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que nega ser candidato. Punida pelo Podemos, Rose anunciou que vai deixar a sigla.

“O Planalto não quer interferir no Congresso. De qualquer forma, como o Davi tem sido um parceiro, o governo não tem nada contra (a reeleição)”, afirmou o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), também vicelíder do governo no Senado.

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