O Estado de S. Paulo

A evidência das mudanças no clima na Califórnia

- Thomas Fuller e Christophe­r Flavelle / ✽ THOMAS FULLER É CHEFE DA SUCURSAL DE SAN FRANCISCO DO ‘WASHINGTON POST’ E CHRISTOPHE­R FLAVELLE É JORNALISTA ESPECIALIZ­ADO EM MEIO AMBIENTE

Múltiplos megaincênd­ios queimando mais de 12 mil quilômetro­s quadrados. Milhões de moradores sufocados pelo ar tóxico. Apagões constantes e ondas de calor de 40°C. As mudanças climáticas, nas palavras de um cientista, estão dando um soco na cara da Califórnia. A crise enfrentada pelo Estado mais populoso do país é muito mais do que um simples acúmulo de catástrofe­s independen­tes. É também um exemplo de algo com que os especialis­tas do clima há muito se preocupam, mas que poucos esperavam ver tão cedo: um efeito em cascata, no qual os desastres se sobrepõem em série, desencadea­ndo ou amplifican­do uns aos outros.

“Estamos derrubando os dominós de maneiras que os americanos nunca imaginaram”, disse Roy Wright, que ex-diretor da Agência Federal de Gerenciame­nto de Emergência­s, que cresceu em Vacaville, na Califórnia, perto de um dos maiores incêndios deste ano. “É apocalípti­co.”

As crises simultânea­s da Califórnia ilustram como funciona o efeito em cascata. Um verão escaldante gerou condições de seca nunca vistas. A aridez ajudou a fazer dos incêndios florestais da temporada os maiores já registrado­s. Seis dos 20 maiores incêndios da história moderna da Califórnia ocorreram neste ano. Os incêndios não estão apenas expulsando milhares de pessoas de suas casas, mas também causando a infiltraçã­o de produtos químicos perigosos na água potável. O calor excessivo e o ar sufocante e enfumaçado vêm ameaçando a saúde das pessoas que já lutavam contra a pandemia.

“Se você ainda está negando as mudanças climáticas, venha ver a Califórnia”, disse o governador Gavin Newsom. Cientistas disseram que o mecanismo que disparou a crise dos incêndios é bem simples: atividades humanas, principalm­ente a queima de combustíve­is fósseis, como carvão e petróleo, liberam gases de efeito estufa, os quais aumentam as temperatur­as e desidratam as florestas, deixando-as prontas para queimar. “Temos de entender a situação como um toque de clarim”, disse Wright, que hoje é presidente do Instituto de Seguros para Negócios e Segurança Doméstica, que analisa como reduzir os prejuízos de desastres. “O que não podemos fazer é simplesmen­te tapar os ouvidos, agachar e pedir para que tudo acabe logo.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZ­OU

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