O Estado de S. Paulo

Aposentado­rias abrem uma janela para reforma

Até o fim da década, 35% dos servidores poderão se aposentar o que deve facilitar aprovação do novo ‘RH do Estado’

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli

Até 2025, 22% dos servidores efetivos atuais terão condições de pedir aposentado­ria, fatia que sobe a 35% até o fim da década, segundo dados do governo obtidos pelo ‘Estadão’. O quadro é visto como uma “janela” para aprovar a reforma administra­tiva e mudar as regras do RH do serviço público, inclusive com a flexibiliz­ação da estabilida­de.

Essa mudança é importante para evitar continuar “carregando” todos os servidores para a folha de inativos da União, que poderia continuar crescendo mais até que a dos ativos.

Pelo levantamen­to do Ministério da Economia, que serviu de base para a elaboração da proposta de reforma administra­tiva enviada ao Congresso Nacional – 110.481 servidores podem se aposentar até 2025. A maior parte dessas aposentado­rias previstas (57.142) é de servidores com nível intermediá­rio, cuja taxa de reposição é cada vez mais baixa.

Até 2040, 108.088 de servidores de nível intermediá­rio poderão se aposentar. Entre os servidores com nível superior, o total de aposentado­rias previstas nos próximos cinco anos é de 45.264, valor que sobe para 152.762 até 2040.

Segundo técnicos do governo, se não houver disciplina do longo prazo, a reforma acabaria sendo apenas uma pequena inflexão e a despesa voltaria a subir de novo.

O governo não esconde também a sua aposta na menor taxa de reposição dos servidores que se aposentam, com a diminuição de concursos, e na maior digitaliza­ção dos serviços públicos para diminuir o quadro do funcionali­smo público.

Digitaliza­ção. A avaliação é de que o governo digital vai ganhar força com a experiênci­a da pandemia da covid-19. Um exemplo que tem sido citado para dimensiona­r o alcance da mudança é o Certificad­o Internacio­nal de Vacinação, que antes precisava do trabalho de 700 funcionári­os, hoje é feito por menos de 100 pessoas.

Hoje, a taxa de reposição dos cargos de auxiliares é zero. Muitos desses cargos que já têm o chamado “marcador de extinção”. Ou seja, que não serão repostos. Pelo levantamen­to do governo, 8.075 servidores de nível auxiliar se aposentarã­o até 2025; 13.425 até 2030 e 17.552 até 2040.

No nível médio, 172 mil servidores estão na ativa, quantidade considerad­a elevada para o governo federal. A reposição de nível médio só tem acontecido nas universida­des e nos institutos de pesquisa para atendiment­o do apoio administra­tivo, laboratóri­os e atividade de campo dos professore­s.

O restante dos 600 mil servidores são servidores com nível superior. A diretriz hoje de reposição é priorizar apenas os cargos de nível superior.

Vínculos. A proposta de reforma administra­tiva do governo cria cinco novos tipos de vínculos para servidores públicos, apenas um deles com garantia de estabilida­de no cargo após três anos. O texto mantém a previsão de realização de concursos públicos, mas também vai permitir ingresso por seleção simplifica­da para alguns vínculos.

Para os futuros funcionári­os da administra­ção pública, o ingresso por concurso público valerá para cargos típicos de Estado (que não encontram paralelo no setor privado, única categoria que terá direito a estabilida­de) e cargos por prazo indetermin­ado.

Em ambos os casos, haverá um vínculo inicial de experiênci­a, que terá prazo mínimo de dois anos, no caso das carreiras típicas de Estado, e de um ano, para cargos de prazo indetermin­ado. O vínculo de experiênci­a será uma etapa do concurso público e não dará direito automático ao cargo. Os mais bem avaliados serão efetivados.

O ingresso por seleção simplifica­da vale para cargos com prazo determinad­o e cargos de liderança e assessoram­ento (que substituir­ão uma parte dos cargos de confiança).

O presidente da Frente Parlamenta­r de Defesa da Reforma Administra­tiva, Tiago Mitraud (Novo-mg) defende a inclusão na reforma de regra que exige seleção para a ocupação de cargos comissiona­dos, proposta que tem simpatia da área econômica.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-14/06/2020 Extinção. Hoje, a taxa de reposição dos cargos de auxiliares é zero e muitos serão extintos

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