O Estado de S. Paulo

Após ter empréstimo negado nos EUA, Latam vê cerco se fechar

Em recuperaçã­o judicial, companhia aérea contava com injeção de recursos para passar pela pandemia

- Cristian Favaro

O cerco começou a se fechar para a companhia aérea chilena Latam depois de a empresa não conseguir convencer a Justiça americana a aceitar o modelo de sua capitaliza­ção. A ordem para a empresa, que tem relevantes operações no Brasil, é uma só, segundo especialis­tas em recuperaçã­o judicial: encontrar outra fonte de dinheiro – e rápido.

A companhia havia acertado um empréstimo de US$ 2,45 bilhões com as famílias Cueto e Amaro – acionistas da companhia –, a Qatar Airways e o fundo Oaktree Capital. No entanto, o empréstimo – no modelo DIP, que dá preferênci­a de pagamento a quem ajudou a empresa no momento de dificuldad­e – não foi aceito pela corte responsáve­l pela recuperaçã­o da companhia nos EUA.

A decisão foi proferida na noite de quinta-feira pelo juiz James L. Garrity Jr., da corte de falências de Nova York, em uma sentença longa, de mais de 100 páginas.

Segundo Maria Fabiana Dominguez Sant’ana, sócia do escritório de advocacia PGLAW, a decisão é um revés que pode ser contornado. A especialis­ta destacou, porém, que não é comum a Justiça americana interferir em processos como esse.

“O problema foi eles entenderem que os acionistas estariam se benefician­do. Não é grave ao ponto de não ser contornáve­l, mas é algo que não costuma acontecer”, disse.

Segundo Bruno Chiaradia, sócio de ASBZ Advogados e especialis­ta em insolvênci­a, a Latam tem um desafio pela frente para avançar com seu plano de recuperaçã­o judicial.

“É uma grande frustração. Levaram o processo para os Estados Unidos para ele ser viabilizad­o com maior segurança. A companhia está em xeque, já que o DIP na forma como foi proposto não deu certo. Ele era o carro-chefe para a recuperaçã­o da empresa. Ela terá de viabilizar um novo formato”, disse o especialis­ta.

No Brasil, as operações seguem castigadas e sem sinal de ajuda do governo brasileiro. O empréstimo via Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), que estava em segundo plano na reestrutur­ação da Latam, agora pode voltar ao radar. Nem a Latam nem suas rivais conseguira­m, até agora, chegar a um acordo com o banco de fomento.

Buscar estratégia­s para ganhar tempo é algo que todas as áreas do mundo vêm fazendo. Essas empresas cada vez mais precisam queimar caixa para fazer frente a custos fixos elevados. A Latam, em especial, tem forte atuação no mercado internacio­nal, que tem demorado mais para retomar diante das restrições a voos em diversos países. O grupo iniciou um processo de recuperaçã­o judicial nos EUA ainda em maio.

Local x longa distância. Globalment­e, a empresa teve utilização das aeronaves de 51% no segundo trimestre, queda de mais de 30 pontos porcentuai­s na comparação anual. Dados da Associação Internacio­nal de Transporte Aéreo (Iata) mostram que a demanda global por voos nos mercados domésticos apresentou queda de 57,5% em julho, também na comparação anual. No mercado internacio­nal, entretanto, a queda no mês foi de 91,9%.

O mercado doméstico brasileiro tem se recuperado de forma mais rápida do o restante da América Latina. Mesmo assim, a Latam se mostra mais fragilizad­a no País e apresentou, em julho, utilização de 66% das aeronaves, contra 79% da Azul e 78% da Gol, conforme dados divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Procurada pela reportagem, a Latam disse que segue avaliando a sentença.

“É uma grande frustração. Levaram o processo para os Estados Unidos para ele ser viabilizad­o com maior segurança. A companhia está em xeque.” Bruno Chiaradia

SÓCIO DA ASBZ ADVOGADOS

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UESLEI MARCELINO/REUTERS-28/05/2020 Dificuldad­e. Latam: necessidad­e rápida de buscar recursos

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