Um livro que é uma casa
Sandra Cisneros conta, na apresentação de A Casa na Rua Mango (Dublinense, 144 págs.; R$ 49,90; R$ 35 o e-book), que ela não quis escrever um livro que as pessoas não fossem entender e, com isso, pudessem sentir vergonha. E que, para ela, histórias dizem respeito à beleza e pessoas que estão ocupadas em ganhar a vida merecem pequenas belas histórias – porque elas não têm muito tempo e estão quase sempre cansadas. Ela escreveu isso em 2008, 24 anos depois do lançamento deste livro de histórias curtas que acompanha Esperanza, uma garota de origem mexicana, como a autora, vivendo num bairro pobre de Chicago, como a autora viveu na infância. E como muitas crianças e adolescentes que sobrevivem apesar de tudo – da miséria, da violência, do abuso, da invisibilidade, da vergonha – sem nunca esquecer de onde vieram.
Esperanza é testemunha e vítima de tudo isso. Nos degraus dos prédios da vizinhança e quintais degradados, vendo a vida passar, ela vai amadurecendo, sonhando com uma casa melhor e com um futuro diferente do das mulheres que conhece. Uma vida diferente da de sua mãe, que abandonou a escola por não ter roupas e que cantarola ópera na cozinha de casa esperando pelo bilhete premiado que vai mudar sua situação. Por essas e por outras, A Casa na Rua
Mango é leitura obrigatória em muita escola americana. A apresentação sensível e honesta que ela escreveu tanto tempo depois talvez responda a algumas das questões com as quais seus leitores têm sido confrontados ao longo dos anos. Um texto em que ela relembra de quem era enquanto escrevia esta ficção atemporal, lançada pela primeira vez no Brasil agora, e em que estabelece um diálogo com a mãe morta.