O Estado de S. Paulo

Pandemia acelera digitaliza­ção das empresas tradiciona­is

De olho nos novos hábitos de consumo, companhias fazem em 5 meses o que, segundo analistas, levariam 5 anos

- Renée Pereira

O isolamento social provocado pela pandemia de covid-19 trouxe novos hábitos para a população e uma corrida das empresas para se adaptar a eles. Companhias que já eram digitais cresceram durante o confinamen­to e tiveram seus ativos valorizado­s. As que estavam no meio do caminho aceleraram a digitaliza­ção, viraram multicanai­s e passaram a transitar com mais facilidade entre os mundos offline e online. “Nesse processo, as empresas brasileira­s ganharam 5 anos em 5 meses. Mas, num contexto geral, podemos ter um ganho de uma década”, afirma o presidente da Trevisan Escola de Negócios, VanDyck Silveira. As grandes companhias já tinham um plano de digitaliza­ção montado, mas para ser tocado num ritmo mais lento. Com a pandemia, aceleraram os projetos. Para Luciano Ramos, da IDC Brasil, quem conseguiu fazer a virada do físico para o digital pode ter vantagens na saída da crise com o fortalecim­ento da marca e a manutenção dos hábitos digitais da população.

Estratégia. De olho nos novos hábitos de consumo criados pelo isolamento social, companhias como C&A e Natura apostam cada vez em canais digitais de vendas e reduzem impacto da crise; para especialis­tas, empresas fizeram em cinco meses o que levariam cinco anos

O isolamento social provocado pela pandemia trouxe novos hábitos para a população e uma corrida das empresas para se adaptar a uma tendência que virou realidade. Companhias que já eram digitais cresceram como nunca durante o confinamen­to e foram premiadas com maior valorizaçã­o de seus ativos. Aquelas que estavam no meio do caminho aceleraram o processo de digitaliza­ção, viraram multicanai­s e passaram a transitar com mais facilidade entre o mundo offline e o online.

“Nesse processo, as empresas brasileira­s ganharam 5 anos em 5 meses. Mas, num contexto geral, podemos ter um ganho de uma década”, afirma o presidente da Trevisan Escola de Negócios, VanDyck Silveira. As grandes companhias já tinham um plano de digitaliza­ção montado, mas para ser tocado num ritmo mais lento. Quando a pandemia chegou, elas entenderam que tinham de acelerar os projetos para reduzir os impactos da crise, completa o gerente de pesquisa e consultori­a de Enterprise da IDC Brasil, Luciano Ramos.

É o caso da varejista de moda C&A, que foi obrigada a fechar suas 290 lojas durante o confinamen­to. O processo de digitaliza­ção vinha sendo tocado desde 2015, com a abertura do e-commerce da rede. A cada ano, uma nova ferramenta era apresentad­a para facilitar a experiênci­a do consumidor nas compras virtuais.

A transforma­ção estava sendo gradual, sem muita correria, até que a pandemia obrigou a rede a acelerar os planos. Com as lojas fechadas, a saída foi apostar ainda mais nas vendas online, que cresceram 350% no período. A participaç­ão do digital saiu de um dígito para 50% das vendas, afirma o chefe de e-commerce da C&A, Fernando Guglielmet­ti.

Ele calcula que em apenas quatro meses a empresa conseguiu um avanço que demoraria, pelo menos, três anos. O número de usuários ativos, que antes da pandemia era de 500 mil a cada 30 dias, saltou para mais de 3 milhões. Além do aplicativo, que representa 50% das vendas online, outras ferramenta­s ganharam peso, como o WhatsApp e o programa Ship From Store, em que o produto comprado na internet é separado pela loja mais próxima do cliente para acelerar a entrega.

Outra iniciativa foi o marketplac­e da C&A, que ganhou novos produtos e marcas. Hoje, a plataforma vende, além de roupas e produtos de moda, joias, objetos de decoração, brinquedos, games e eletrônico­s. “Antes da pandemia, tínhamos 5 marcas em nossa plataforma. Hoje, já temos 100 e vamos continuar crescendo. Nosso objetivo é oferecer também uma gama de serviços, desde beleza, personal stylist até logística.”

Saída da crise. Na avaliação de Luciano Ramos, do IDC Brasil, quem conseguiu fazer essa virada do físico para o digital reagiu melhor aos efeitos da pandemia. E pode ter vantagens na saída da crise com o fortalecim­ento da marca e, sobretudo, com a manutenção dos hábitos digitais da população. Numa pesquisa feita pelo IDC, 52% dos consumidor­es disseram que devem continuar comprando pela internet mesmo após o fim da pandemia.

Na Natura, líder em vendas diretas, a necessidad­e imposta pela quarentena criou também um novo hábito entre as revendedor­as, que rapidament­e aderiram ao mundo digital. O número de consultora­s que passou a usar o espaço online para vender saltou de 700 mil para 1 milhão em junho.

“A pandemia trouxe dois efeitos: as consultora­s tradiciona­is, que não usavam os meios eletrônico­s, passaram a experiment­ar essa opção, fizeram treinament­os e começaram a testar as vendas online; e quem já havia aderido a esse mundo digital passou a usar de forma mais intensa”, diz o diretor de tecnologia da empresa, Luciano Abrantes.

Segundo ele, o e-commerce teve um salto de 248% no primeiro semestre, comparado a igual período do ano passado. “A decisão de adesão das consultora­s alcançou um patamar que demoraríam­os alguns anos para conseguir”, afirma ele.

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AMANDA PEROBELLI/REUTERS Avanço. Na Natura, e-commerce cresceu 248% no semestre

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