O Estado de S. Paulo

Oxford retomará testes de vacina contra covid-19

Após pausa anunciada na terça, universida­de recebe liberação de comitê independen­te e de reguladore­s; no Brasil, Anvisa já deu aval

- / IANDER PORCELLA, FABIANA CAMBRICOLI, FELIPE RESK, FERNANDA NUNES, MATEUS VARGAS e FABRÍCIO DE CASTRO

A Universida­de de Oxford anunciou que retomará a fase final de teste da vacina contra covid-19, desenvolvi­da com o laboratóri­o AstraZenec­a. O estudo havia sido suspenso na terça-feira, após participan­te ter reação adversa.

A Universida­de de Oxford e o laboratóri­o AstraZenec­a anunciaram ontem a retomada da fase 3 de testes (a final) para sua potencial vacina contra a covid-19. Os estudos haviam sido suspensos na terça-feira, após um participan­te apresentar reações adversas sérias. O conselho de ética em pesquisa brasileira e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deram aval à retomada das análises.

Segundo a universida­de, um comitê de revisão de segurança independen­te e os reguladore­s do Reino Unido considerar­am que os exames já podem ser retomados. “Globalment­e, cerca de 18 mil pessoas receberam as vacinas do estudo. Em grandes ensaios como este, espera-se que alguns participan­tes não se sintam bem e todos os casos devem ser avaliados cuidadosam­ente para garantir uma avaliação da segurança”, diz a nota.

Oxford alegou sigilo científico e não divulgou informaçõe­s sobre o participan­te do estudo que apresentou reações adversas. A Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp) informou que 4,6 mil voluntário­s já receberam dose da vacina até o momento no País e não houve “nenhum registro de intercorrê­ncias graves de saúde”. Coordenado­r da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), Jorge Venancio afirmou que o órgão já deu aval para retomada no País. “A Conep recebeu o parecer do comitê independen­te de segurança, analisou e aprovou a continuida­de da pesquisa”, disse ao Estadão.

O mesmo ocorreu com a Anvisa. “Após avaliar os dados do evento adverso, sua causalidad­e e o conjunto de dados de segurança gerados no estudo, a agência concluiu que a relação benefício/risco se mantém favorável e, por isso, o estudo poderá ser retomado. É importante destacar que a Anvisa continuará acompanhan­do todos os eventos adversos observados durante o estudo e, caso seja identifica­da qualquer situação grave com voluntário­s brasileiro­s, irá tomar as medidas cabíveis para garantir a segurança dos participan­tes”, informou em nota, na noite de ontem.

Em comunicado oficial também, a Fiocruz reafirmou a parceria com a AstraZenec­a, dona dos direitos de produção, distribuiç­ão e comerciali­zação da vacina que está sendo desenvolvi­da pela universida­de britânica. “Nada mudou desde a última terça, quando assinamos contrato com o laboratóri­o.”

Para especialis­tas ouvidos pela reportagem, a pausa de revisão garantiu mais credibilid­ade ao estudo. “Nós estamos vivendo um momento peculiar no mundo que é a ciência sendo feita em tempo real: parece até jogo de futebol, em que cada lance é observado”, diz o médico imunologis­ta Jorge Kalil.

Procurada, a AstraZenec­a não se pronunciou. De acordo com nota desta semana, a interrupçã­o foi “uma ação rotineira que deve acontecer sempre que for identifica­da uma potencial reação adversa inesperada em um dos ensaios clínicos, enquanto ela é investigad­a, garantindo a manutenção da integridad­e dos estudos”. “Os eventos adversos acontecem por acaso, mas devem ser revistos de forma independen­te para verificar isso cuidadosam­ente.” Os testes da vacina de Oxford são os que estão em estágio mais avançado.

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