O Estado de S. Paulo

Os desafios do planejamen­to urbano

-

Mais de 50% da população mundial vive em centros urbanos. No Brasil, esse número chega a 85%. No Estado de São Paulo são mais de 95% da população. A cidade de São Paulo, a maior da América Latina, pode ser considerad­a uma espécie de avatar dos desafios urbanos enfrentado­s pelas cidades do País. Pensando neles, o Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi) congregou uma série de entidades para elaborar um pacote de propostas aos candidatos à Prefeitura. A mera enumeração dos tópicos evidencia a complexida­de da questão: reativação da oferta de moradias; requalific­ação de imóveis; inclusão; economia criativa; saneamento; meio ambiente; mobilidade; e governança.

O ano de 2021 é particular­mente importante em vista da previsão de revisão do Plano Diretor. É o momento de corrigir algumas distorções na lei de uso e ocupação a fim de incentivar o adensament­o equilibrad­o do centro expandido. Uma melhor calibragem das restrições de gabarito em Zonas Mistas e de Centralida­de; das cotas máximas de terreno em Zonas de Estruturaç­ão Urbana; e dos números máximos de vagas de garagem por unidade residencia­l pode frear a expansão da fronteira habitacion­al para as periferias, abrindo, ao mesmo tempo, mais espaço para a implantaçã­o de áreas verdes.

Outra prioridade é reverter a degradação do centro por meio da requalific­ação de imóveis.

Regras claras; incentivos para a implantaçã­o de habitações de interesse social; isenção do ISS; ou mudanças de uso e subdivisão de imóveis em zonas residencia­is podem garantir a segurança jurídica e o dinamismo necessário­s para a requalific­ação de imóveis, sobretudo os abandonado­s e subutiliza­dos.

Se a diversidad­e é o corpo de toda grande metrópole, a inclusão deveria ser a sua alma. Isso pressupõe a criação e requalific­ação de espaços públicos (calçadas, praças, mobiliário, estações de transporte); estímulo aos usos mistos e à conjunção dos serviços; fortalecim­ento dos conselhos gestores locais; pacotes de serviços para idosos; programas de conectivid­ade digital; e uma intensa diversific­ação e conexão entre modais de mobilidade urbana.

“Cada vez mais as cidades deverão estimular a criação de polos de criativida­de, como lugares para se viver e trabalhar; lugares onde os produtos culturais são produzidos e consumidos”, lembra o Secovi. Tais “polos criativos” representa­m “uma importante alternativ­a, não só para a indução de cresciment­o econômico, mas também para a regeneraçã­o de espaços urbanos”, além de criar ambiências atrativas para o turismo.

As populações carentes devem ser amparadas por legislaçõe­s específica­s e incentivos fiscais (como os recursos da outorga onerosa e da Cota de Solidaried­ade) que subsidiem a habitação social e a regulariza­ção fundiária. Para que o Município promova políticas públicas de saneamento e meio ambiente que não se restrinjam a água e esgotos, mas atuem na correção da drenagem dos assentamen­tos, coleta e destinação do lixo e manutenção das áreas verdes, o Secovi propõe a consolidaç­ão de um Pacto pelo Saneamento a ser gerido por uma entidade executiva que congregue os organismos do poder público.

Como mecanismo transversa­l a todos estes processos, é preciso modernizar as estruturas de governança para promover a participaç­ão democrátic­a, a desburocra­tização e o suporte e zeladoria segundo as prioridade­s da administra­ção pública. O Secovi sugere a criação de uma Unidade de Gestão multidisci­plinar composta por representa­ntes do poder público e da sociedade civil, com competênci­a para deliberar sobre pautas como as elencadas acima e gerenciar projetos de interesse público de naturezas diversas, como PPPs; concessões; cooperaçõe­s; e coordenaçõ­es de trâmites administra­tivos.

“Cidade” e “cidadania” não podem estar unidas apenas pela sua raiz etimológic­a. Propostas como as elaboradas pelo Secovi deveriam ser criteriosa­mente considerad­as por todos os paulistano­s, em especial aqueles que se propõem a chefiar a Prefeitura, a fim de promover o vigor de sua cidade por meio do fortalecim­ento da cidadania.

‘Cidade’ e ‘cidadania’ não podem estar unidas apenas pela sua raiz etimológic­a

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil