O Estado de S. Paulo

Siglas obtêm verba pública sem cumprir requisito

PSL, PL e PSB recebem dinheiro destinado a gabinete de quem tem mais de 3 senadores

- Daniel Weterman / BRASÍLIA

Com discurso em prol da transparên­cia e do enxugament­o de gastos, PSL, PSB e PL recebem verba para manter gabinetes especiais de liderança no Senado, mesmo sem atender requisito de possuir mínimo de três parlamenta­res. Os partidos ganham R$ 250 mil por mês cada e empregam até duas dezenas de assessores, embora tenham apenas dois senadores filiados na atual legislatur­a.

A Rede Sustentabi­lidade, com a desfiliaçã­o recente do senador Flavio Arns (PR), que foi para o Podemos, será o próximo partido a perder o direito ao espaço e aos cargos. As legendas argumentam que, em decorrênci­a da pandemia do novo coronavíru­s, não puderam ainda acertar com o comando da Casa a situação e se adequar às regras internas.

A decisão de retirar os gabinetes dos partidos, porém, cabe ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que busca atrair apoio para sua tentativa de reeleição em 2021. Responsáve­l pelos atos administra­tivos, Alcolumbre se movimenta para agradar às mais diversas bancadas. Para o senador ser reconduzid­o ao cargo é necessária a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC). Alcolumbre também tenta obter o sinal verde do Supremo Tribunal Federal (STF).

Procurado, o Senado não se manifestou sobre a manutenção dos gabinetes.

Desde o ano passado, as bancadas que perderam o direito à liderança tentam cooptar outros senadores para garantir o benefício. A migração, porém, não é fácil, principalm­ente em um ano de disputas municipais, e muitas vezes acaba esbarrando em negociaçõe­s eleitorais nos Estados e na distribuiç­ão de cargos. Com a liderança, os partidos têm acesso à verba para contratar assessores e manter o funcioname­nto dos gabinetes – isso sem contar o gabinete próprio de cada parlamenta­r.

O regulament­o administra­tivo do Senado determina que as estruturas sejam desmobiliz­adas, com a perda dos cargos, em um prazo de três meses após o partido diminuir de tamanho.

O PSB perdeu o direito à liderança em outubro, mas mantém 23 assessores pagos pelo Senado para atender dois senadores. O partido prometeu, ainda no ano passado, que a situação seria resolvida em dezembro, o que não ocorreu. Desta vez, o líder do PSB no Senado, Veneziano Vital do Rêgo (PB), não quis se manifestar. A sigla mantém comissiona­dos com salários que vão de R$ 4,5 mil, no caso de um motorista, até R$ 17,9 mil – remuneraçã­o de um secretário parlamenta­r.

A Rede promete cumprir as regras para desmobiliz­ar o gabinete. “A partir da comunicaçã­o dele (desfiliaçã­o de Arns), contamse três meses e se desmobiliz­a o gabinete da liderança. Cumpriremo­s o regimento”, disse o líder da bancada, Randolfe Rodrigues (AP). A decisão, no entanto, está nas mãos de Alcolumbre.

O PSL teria de perder o gabinete até março deste ano, mas ainda continua com a estrutura e 18 assessores. “É uma conveniênc­ia do presidente (Alcolumbre) fazer o ajuste. Não existe lobby”, afirmou o líder do partido no Senado, Major Olimpio

(SP). “Todos nós, os três partidos, já dissemos ao presidente que, quando ele entender convenient­e, que faça. Nenhum de nós vai se contrapor aos próprios princípios.”

Partido do Centrão com presença mais forte na Câmara, o PL só tem dois senadores desde o início da legislatur­a, em 2019. Mesmo assim, mantém um gabinete de liderança e 12 assessores. O líder do PL, Jorginho Mello (SC), diz ter conversado com Alcolumbre sobre a situação, mas não houve solução concreta. “Veio a pandemia, as sessões ficaram remotas e ficou tudo difícil nesses contatos”, argumentou. Mello promete filiar um terceiro senador na legenda e liquidar a polêmica, o que ainda não ocorreu.

• ‘Ajuste’

“É uma conveniênc­ia do presidente (Alcolumbre) fazer o ajuste. Não existe lobby”. Todos nós, os três partidos, já dissemos ao presidente que, quando ele entender convenient­e, que faça.” Major Olimpio (PSL-SP) SENADOR

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WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO–25/8/2020 Senado. Decisão de retirar gabinetes de lideranças de siglas com menos de 3 senadores é do presidente, Davi Alcolumbre

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