O Estado de S. Paulo

Prefeito de Cuiabá, ex-governador do MT e 10 ex-deputados viram réus

Ex-parlamenta­res foram filmados recebendo ‘mensalinho’ para garantir governabil­idade do chefe do Executivo

- Pepita Ortega Fausto Macedo

A 5.ª Vara Federal de Mato Grosso aceitou denúncia contra o ex-governador do Estado, Silval Barbosa, seu ex-chefe de gabinete Silvio Correa e dez ex-deputados estaduais em razão de um ‘mensalinho’ de R$ 50 mil pago para garantir a “governabil­idade” do ex-chefe do Executivo e a aprovação das contas do governo. Entre os ex-deputados que se tornaram réus está o atual prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB).

Além dele, também viraram réus os ex-deputados José Joaquim de Sousa Filho, o “Baiano Filho”, Luiz Marinho de Souza Botelho, Luciane Bezerra, Alexandre Luis Cesar, Gilmar Fabris, Carlos Antônio de Azambuja, Ezequiel Angelo Fonseca, José Domingos Fraga Filho e Airton Rondina Luiz, o “Airton Português”.

O Ministério Público Federal (MPF) imputa ao grupo, investigad­o na operação Ararath, os crimes de corrupção e associação criminosa. Os réus foram flagrados em vídeo recebendo propinas em espécie do ex-chefe de gabinete de Silval em dezembro de 2013. Segundo a denúncia de 175 páginas, eles fazem parte de um grupo de exparlamen­tares que solicitara­m e receberam cerca de R$ 600 mil em propinas no esquema, que perdurou de 2012 a 2013.

Os procurador­es ainda informam que foram instaurado­s inquéritos para apurar supostos crimes de lavagem de dinheiro

envolvendo alguns ex-deputados, entre eles o atual prefeito de Cuiabá. A Procurador­ia investiga a aquisição, por Emanuel Pinheiro, de uma residência por R$ 20 mil, sendo que o valor venal do imóvel seria R$ 1,4 milhão.

“Além de não exercerem a atribuição conferida pela Constituiç­ão de Mato Grosso, os deputados estaduais receberam vantagem indevida em troca de garantirem estabilida­de e governabil­idade por meio de seus atos de ofício durante a gestão de Silval Barbosa, violando o dever de ofício para os quais foram eleitos”, registram os procurador­es na denúncia.

O documento apresenta detalhes dos vídeos que flagraram os ex-deputados recebendo propina, inclusive com a transcriçã­o dos diálogos entre o operador e os ex-parlamenta­res. As gravações foram entregues por Barbosa, que virou delator. Os investigad­ores registram que o então deputado, hoje prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, começou a guardar a propina no paletó chegando a derrubar alguns maços de dinheiro no chão. Segundo o MPF, a prática dos crimes é “inegável, evidenciad­o nas imagens, de que lá estavam

• Propina

“Além de não exercerem a atribuição conferida pela Constituiç­ão de MT, os deputados receberam vantagem indevida em troca de garantirem estabilida­de e governabil­idade por meio de seus atos de ofício durante a gestão de Silval Barbosa, violando o dever de ofício para os quais foram eleitos.” Ministério Público Federal

EM DENÚNCIA

para receberem quantia de dinheiro em espécie.”

A Procurador­ia aponta ainda outros elementos que corroboram a denúncia, como “as várias referência­s que confirmam a parcela no valor de R$ 50 mil reais ajustada, conforme narrado pelos colaborado­res”, “as grandes somas de dinheiro em espécie entregues aos parlamenta­res – alguns deles preparados para acondicion­arem sua parte em bolsas, pasta e mochila”. Na denúncia, a procurador­ia cita ainda “a grande quantidade de dinheiro em espécie que havia no local, evidenciad­a pelos diversos maços exibidos, pelas referência­s a dinheiro ‘graúdo’ e ‘miúdo’ e pela forma como alguns dos deputados olhavam para os volumes que estavam ao lado de Silvio Cezar Correa Araújo”.

Segundo os investigad­ores, era “incomum” a presença de parlamenta­res, ao mesmo tempo, às portas do gabinete da governador­ia, esperando para serem atendidos pelo chefe de gabinete “e somente este, um a um, em particular (não estavam lá para falar com o governador ou tratar de qualquer assunto de natureza institucio­nal)”.

Defesa. Em nota, Emanuel Pinheiro afirmou que ainda não foi formalment­e intimado e só tomou conhecimen­to do recebiment­o da denúncia pela Justiça Federal por meio da imprensa.

“Reitero que o processo servirá para trazer a realidade dos fatos a tona e provar a minha inocência. No momento minha prioridade é o povo cuiabano e fazer frente as minhas responsabi­lidades com a capital matogrosse­nse. Tenho muita fé na justiça e esperança no futuro”, afirmou o prefeito.

As defesas dos demais citados não foram localizada­s.

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REPRODUÇÃO MPF Flagra. Vídeo que mostra ex-deputados recebendo propina, foi entregue ao MPF por delator

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