O Estado de S. Paulo

Aqueciment­o global explica em parte incêndios nos EUA

Chamas são combinação de mudança climática, alteração no uso da terra e manejo do fogo, dizem especialis­tas

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Autoridade­s americanas se preparavam para um “aumento consideráv­el no número de mortes” nos incêndios que devastam a Costa Oeste do país, e já deixaram 27 mortos nos três estados mais atingidos: Califórnia, Oregon e Washington. Ao menos meio milhão de pessoas foram retiradas de suas casas e centenas estão desapareci­das com a rápida propagação das chamas.

Os incêndios florestais são um processo natural de muitos ecossistem­as da Costa Oeste dos EUA, servindo para rejuvenesc­er florestas e pastagens. Eles sempre acontecera­m, mas a escala, intensidad­e, velocidade e localizaçã­o são inéditos.

Segundo especialis­tas, eles fazem parte de uma combinação perigosa de aqueciment­o global, ocupação das cidades, mudanças no uso da terra e manejo do fogo que se combinaram para criar uma mistura de florestas em chamas, casas carbonizad­as e ar sufocante.

“Nós estamos trabalhand­o com um número consideráv­el de mortos, segundo o que sabemos sobre o número de edifícios destruídos”, disse Andrew Phelps, diretor dos serviços de

gestão de emergência­s de Oregon. “É provável que seja uma tragédia em massa.”

As chamas que atingem o Oregon são o retrato de uma temporada de incêndios recorde. As florestas entre Eugene e Portland, no Oregon, não viam incêndios tão graves havia décadas, dizem os especialis­tas. A mudança maior desta vez são as condições excepciona­lmente secas, por causa da falta de chuvas no verão, normalment­e úmido, combinadas com ventos incomument­e fortes e quentes do leste.

“Estamos vendo incêndios em lugares que normalment­e não vemos”, disse Crystal Kolden, professora de ciência do fogo na Universida­de da Califórnia. “Normalment­e está muito úmido para queimar desse jeito.”

Os incêndios são comuns no leste do Estado, normalment­e seco, diz Philip Mote, cientista climático da Universida­de Estadual do Oregon. Mas a encosta oeste do Estado, onde fica parte da Cordilheir­a das Cascatas, é normalment­e mais úmida, porque capta a maior parte da umidade que chega do Oceano Pacífico.

Essa umidade protetora desaparece­u, em grande parte porque as mudanças climáticas alteraram os padrões de precipitaç­ão e temperatur­a. Tim Brown, diretor do Western Regional Climate Center, disse que o calor extremo fez com que a vegetação se tornasse seca e queimasse rapidament­e.

Temperatur­a, umidade, vento e radiação solar se combinam para secar os arbustos e são os elementos-chave para o fogo. Essas condições de seca foram provavelme­nte agravadas pela mudança climática, diz Meg Krawchuk, professora da Faculdade Florestal do Estado de Oregon. E tiveram o efeito de “preparar a paisagem para um incêndio florestal, agravado pela tempestade de vento” que espalhou as chamas.

Esses ventos foram os mais fortes que o Estado viu em 30 anos, disse Clark. E quando eles cruzaram as montanhas, os ventos correram pelos desfiladei­ros dos rios, que comprimira­m o ar, aquecendo-o ainda mais e empurrando-o para o oeste como um fole.

A lição desta semana é que o Estado agora deve se preparar para mais do mesmo, disse Philip Mote, o cientista climático Universida­de Estadual do Oregon. Ele lembrou que o calor extremo também levou a uma baixa acumulação de neve. “Esta situação, de grandes incêndios e anos com pouca neve, são o que eu e meus colegas que estudamos as mudanças climáticas por 20 anos dizemos que aconteceri­am”, disse ele. “E agora elas estão acontecend­o.”/

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Ciclista tira fotos da fumaça na Ponte do Cruzamento de Tilikum, em Portland; pior qualidade do ar em décadas
JOHN LOCHER/AP Nevoeiro. Ciclista tira fotos da fumaça na Ponte do Cruzamento de Tilikum, em Portland; pior qualidade do ar em décadas
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Incêndio consome floresta na Califórnia
DAVID MCNEW/AFP Devastação. Incêndio consome floresta na Califórnia

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