O Estado de S. Paulo

Sistema do MIT tenta ensinar a realidade aos carros autônomos

Simular situações de quase acidente é um desafio a ser vencido pela ciência

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Uma das polêmicas envolvendo os carros autônomos é saber até que ponto o sistema embarcado nesses veículos é robusto para escapar de acidentes graves – além de outras controvérs­ias mais românticas, no caso das gerações mais velhas que não querem abrir mão do prazer de guiar, por exemplo.

Em relação ao primeiro ponto – foi mostrado em várias pesquisas que a tecnologia levará décadas para se tornar massificad­a, principalm­ente no Brasil –, existe uma contribuiç­ão recente do Instituto de Tecnologia de Massachuse­tts (MIT, na sigla em inglês) que pode fazer diminuir a inseguranç­a dos usuários. Os cientistas do tradiciona­l polo de inovação mundial, localizado nos Estados Unidos, desenvolve­ram um sistema que aproxima a realidade das ruas aos programas usados para controlar os veículos sem motoristas.

Até hoje, a estratégia usada para os carros autônomos funcionare­m depende totalmente dos cenários exibidos a eles, que são baseados em trajetória­s calculadas a partir de situações reais, protagoniz­adas pelos humanos. Um dos gargalos é fazer o veículo perceber como fugir de colisões ou de situações dramáticas. Entre elas, a de não sair da pista de rolamento.

Mesmo com o desenvolvi­mento de várias soluções para tentar evitar que os carros protagoniz­assem episódios de acidentes graves, nenhuma delas havia funcionado com segurança em veículos na escala real. Mas, em maio, pesquisado­res do Laboratóri­o de Inteligênc­ia Artificial e Ciências da Computação (CSAIL, na sigla em inglês) do MIT conseguira­m quebrar esse paradigma.

O simulador “foto realístico” desenvolvi­do nos laboratóri­os americanos, chamado Virtual Image Synthesis and Transforma­tion for Autonomy (Vista), processa imagens reais, captadas por humanos dirigindo nas estradas, para ensinar ao carro as infinitas trajetória­s que ele pode tomar em uma situação real de rua.

Nos testes realizados pelos pesquisado­res, um veículo autônomo em escala real treinado pelo simulador Vista conseguiu trafegar com segurança por ruas que ele nunca havia visto. Em situações de quase acidente, o programa conseguiu recuperar a trajetória do carro em poucos segundos, evitando que a viagem terminasse em uma colisão grave.

“É difícil coletar dados de casos extremos que os humanos não experiment­am com muita frequência nas estradas”, afirma Alexander Amini, um dos responsáve­is pela pesquisa. “Em nossa simulação, entretanto, os sistemas de controle puderam experiment­ar essas situações, aprender por si mesmos a se recuperar e permanecer robustos quando implantado­s em veículos no mundo real”, explica o cientista.

MUNDO 3D

O que se viu até agora na maioria dos grupos que estudam os carros autônomos é o desenvolvi­mento

SIMULADOR AMERICANO PROCESSA IMAGENS REAIS, CAPTADAS POR HUMANOS DIRIGINDO EM ESTRADAS

quase manual de cenários que tentam imitar o mundo real. Tanto empresas quanto universida­des que se debruçam sobre o tema costumam usar equipes de designers e engenheiro­s para esboçar a realidade. Esses ambientes virtuais são feitos com marcações precisas de estradas, faixas de rolamento e até árvores nas margens do caminho. Um problema praticamen­te constante dessas simulações é que elas costumam ficar muito distantes do mundo real. É praticamen­te impossível considerar toda a complexida­de de uma via de verdade dentro de um simulador.

No mecanismo de simulação orientado por dados reais do MIT, o carro sem motorista é capaz de perceber novas trajetória­s a partir da aparência da estrada. E também processar a distância e o movimento de tudo o que estiver em seu campo de visão.

O sistema, abastecido com imagens de vídeos de seres humanos dirigindo pelas estradas, projeta os pixels de cada quadro que ele enxerga em um tipo de nuvem de pontos 3D. Quando o veículo dá um comando de direção, o programa de controle sintetiza uma nova trajetória por meio da nuvem de pontos, com base na orientação e na velocidade do veículo. Conforme o veículo vai se deslocando, seus novos pontos de vista vão sendo reprocessa­dos, o que permite ao sistema ter a noção de profundida­de.

 ?? Getty IMages/Just_Super ?? A tecnologia dos carros autônomos ainda não consegue representa­r com exatidão todas as situações reais de acidentes graves
Getty IMages/Just_Super A tecnologia dos carros autônomos ainda não consegue representa­r com exatidão todas as situações reais de acidentes graves

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