O Estado de S. Paulo

Extinção da Ceitec pode ter irregulari­dades

‘Processo expresso’ pelo fechamento da estatal compromete legitimida­de da operação, diz área técnica do TCU

- Anne Warth / COLABOROU MARLLA SABINO

A área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) avalia que a decisão do governo pela extinção da Ceitec, – a estatal do chip do boi – pode estar cercada de irregulari­dades que compromete­m a legitimida­de e a legalidade do processo.

Análise realizada no dia em que a recomendaç­ão foi aprovada menciona uma série de medidas infralegai­s que teriam permitido um processo expresso, tocado unicamente pelo Ministério da Economia, que manifestou por diversas vezes a intenção de privatizar e liquidar dezenas de estatais. A área técnica chegou a propor cautelar (medida provisória) para impedir a deliberaçã­o do Conselho do Programa de Parcerias de Investimen­tos (CPPI), mas a ministra Ana Arraes não acatou a sugestão. O processo é sigiloso, mas o Estadão/Broadcast teve acesso à documentaç­ão.

A Ceitec foi qualificad­a no âmbito do PPI em 14 de outubro de 2019 e a decisão de dissolver a estatal foi aprovada em 10 de junho deste ano pelo conselho do colegiado, que é formado por diversos ministros do governo. De acordo com o TCU, no entanto, o decreto que qualificou a Ceitec no PPI citava a elaboração de estudos e avaliação de alternativ­as para a empresa, mas não mencionava sua dissolução entre as possibilid­ades.

Para o TCU, a recomendaç­ão para liquidação teria sido enviesada, já que o comitê responsáve­l por fazer as análises sobre o futuro da empresa sofreu uma mudança de composição em janeiro. Assim, a decisão pela liquidação foi aprovada sem que o TCU monitorass­e o caso, “em contraried­ade ao histórico de décadas de atuação desta Corte nos processos de desestatiz­ação no âmbito do governo federal, com prejuízos à eficácia da atuação do Tribunal e à segurança jurídica do processo”./

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