O Estado de S. Paulo

Frutas para o mundo

- E-MAIL: RRCERES75@GMAIL.COM ROBERTO RODRIGUES ESCREVE NO SEGUNDO DOMINGO DO MÊS ROBERTO RODRIGUES

Com uma ampla diversidad­e edafoclimá­tica, os produtores rurais do Brasil têm se mostrado capazes de produzir todo tipo de alimento, sobretudo graças a uma tecnologia sustentáve­l gerada em nossos órgãos de pesquisa públicos e privados e em nossas universida­des ligadas às ciências agrárias.

E essa capacidade se mostra também na fruticultu­ra.

Com efeito, aqui produzimos o que se produz no mundo todo e mais algumas variedades que só existem no vasto território brasileiro. Nossas maçãs são as mais saborosas de todo o Mercosul, e temos o açaí da Amazônia que hoje encanta o mundo. Já plantamos kiwi, uvas sem “caroço”, damasco, atemoia, granadilha, pitaya, tâmara, mangostin, cereja, lichia – frutas vindas mais recentemen­te de fora –, e temos o guaraná e a jabuticaba. Famílias brincam com os nomes das frutas, ensinando as crianças a conhecerem a imensa variedade delas a partir das letras do alfabeto: com A tem abacate, abacaxi, acerola, ameixa, amora, amarelinha e por aí vai...

E por isso somos o terceiro maior produtor de frutas do mundo. No ano passado, produzimos 44 milhões de toneladas delas, cujo valor bruto foi de R$ 38 bilhões, cultivados em 2,5 milhões de hectares, gerando 5 milhões de empregos. E essa é uma caracterís­tica muito importante desse setor: gera 2 empregos por hectare, e são empregos diferencia­dos e bem remunerado­s, porque não se pode lidar com pêssegos ou figos como se lida com canade-açúcar, soja ou algodão, em que as colheitas são mecanizada­s e os volumes, granelizad­os. Cada fruta é um indivíduo e assim deve ser tratada. Além disso, o alto valor agregado das frutas permite que sejam cultivadas por pequenos produtores, não exigindo escala para ter resultados, como acontece com as commoditie­s cuja renda por unidade é normalment­e muito baixa.

Temos 30 polos de produção de frutas tropicais e temperadas espalhadas pelo território todo, em permanente evolução tecnológic­a.

No entanto, mesmo com essa espetacula­r grandeza, somos apenas o vigésimo terceiro exportador mundial de frutas. E a ingestão diária de frutas pelos brasileiro­s é de apenas um terço do recomendáv­el. Podemos avançar muito nessa atividade, tanto no mercado interno quanto no externo.

Atualmente, a irrigação é muito econômica, com o uso do gotejament­o (cada planta recebe de sistemas de distribuiç­ão fixos apenas as gotas de água de que necessita), os canteiros são protegidos por lençóis de plástico para evitar a evaporação e o ataque de insetos e pragas; já se pode ligar a irrigação pelo celular, a quilômetro­s de distância, e a energia solar é amplamente utilizada.

Mas ainda existem alguns gargalos. Entre eles, o mais complicado é a necessidad­e de registro de defensivos agrícolas que não gerem nenhum tipo de resíduos nas frutas para o consumo humano. Existe uma relação de mais de mil produtos à espera de regulariza­ção para uso dos fruticulto­res.

Mesmo assim, com os agroquímic­os hoje existentes, o LMR (Limite Máximo de Resíduos) encontrado nas frutas brasileira­s está de acordo com os parâmetros internacio­nais. Portanto, se novos defensivos forem liberados, a qualidade de nossos frutos, que já é excelente, melhorará ainda mais. E, aliás, já usamos muitos defensivos biológicos aprovados pelos nossos organismos de defesa sanitária. O exemplo da banana é notável. Essa fruta é a mais comerciali­zada no mundo, embora seja apenas a nona na nossa relação de exportadas. Mas a banana produzida no Ceará recebe apenas uma pulverizaç­ão por ano, enquanto em países concorrent­es chega a receber mais de 40 pulverizaç­ões anuais de defensivos.

Temos muito que avançar nesse segmento diferencia­do. Uma boa estratégia sendo negociada entre os produtores e o governo abrirá grandes e remunerado­res mercados para as frutas brasileira­s. E isso tudo sem falar nas nossas deliciosas castanhas e nozes.

Com 44 milhões de toneladas colhidas em 2019, somos o 3.º maior produtor do mundo

✽ EX-MINISTRO DA AGRICULTUR­A E COORDENADO­R DO CENTRO DE AGRONEGÓCI­OS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

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