O Estado de S. Paulo

Governo quer incluir Renda Brasil na Constituiç­ão

Segundo Fernando Bezerra, líder no Senado, ideia é incluir principais conceitos do programa social no parecer da PEC do pacto federativo

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli

O governo negocia a inclusão no texto da Constituiç­ão dos principais conceitos do Renda Brasil, programa social que vai substituir o Bolsa Família. Em entrevista ao Estadão, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), informou que o objetivo é garantir o direito a uma renda mínima a todo cidadão brasileiro.

Bezerra antecipou que a ideia é incluir os conceitos do Renda Brasil no parecer do senador Marcio Bittar (MDB-AC) sobre a Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC) do pacto federativo, que traz medidas para cortar despesas e abrir espaço no teto de gastos, o mecanismo que atrela o aumento das despesas à inflação.

Segundo Bezerra, as medidas de desindexaç­ão (retirada de correções automática­s de gastos), desvincula­ção (retirada dos “carimbos” das despesas) e desobrigaç­ão – o chamado “DDD” – devem abrir um espaço fiscal de R$ 20 bilhões em 2021, valor que pode passar dos R$ 40 bilhões no segundo ano de implementa­ção.

Para ele, o cenário de inflação baixa dá chance à aprovação de uma desvincula­ção do salário mínimo, que deixaria de ter correção automática pelo INPC para viabilizar o Renda Brasil.

“Assim como nós colocamos na Constituin­te de 88 o SUS (Sistema Único de Saúde), vamos assegurar a renda mínima”, afirmou. Entre os conceitos que serão incluídos, ficará definido que o Renda Brasil vai cuidar dos brasileiro­s desde a primeira infância até o primeiro emprego.

O líder do governo passou os últimos dias em negociaçõe­s para a definição do cronograma de votação dos principais pontos da agenda econômica. Segundo ele, a previsão é que no dia 16 de novembro seja definido o espaço fiscal para o financiame­nto do Renda Brasil em 2021, com o montante de recursos disponívei­s e o tamanho do público beneficiad­o.

Até lá, a estratégia é aprovar as medidas que vão abrir espaço para bancar o programa por meio da PEC do pacto federativo. “É um programa muito inovador, que estimula a formalizaç­ão do emprego, mas com compromiss­o com a solidaried­ade social”, disse ele, ressaltand­o que a pandemia da covid-19 agravou a desigualda­de em todo o mundo. Na avaliação do parlamenta­r, o programa vai assegurar o direito à renda mínima para que um contingent­e expressivo de brasileiro­s não fique abaixo da linha da miséria.

Fontes de financiame­nto. O espaço fiscal é uma das grandes incógnitas do Renda Brasil. O presidente Jair Bolsonaro vinha manifestan­do desejo por um benefício próximo dos R$ 300 mensais, mas para isso a equipe econômica sugeriu acabar com benefícios como abono salarial (14.º salário pago a trabalhado­res com carteira que ganham até dois salários mínimos) e seguro-defeso (pago a pescadores no período de proibição da atividade). A sugestão foi rejeitada pelo presidente.

Desde então, a área econômica focou sua estratégia na criação em si do programa, ainda que de forma mais tímida no início. Segundo uma fonte, a ideia é criar a “caixinha” do Renda Brasil e ir, aos poucos, direcionan­do os recursos para lá. A avaliação é que, com os resultados, o próprio Congresso terá o desejo de turbinar o programa e encampará as revisões de benefícios existentes sugeridas pelo Ministério da Economia.

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ADRIANO MACHADO/REUTERS-01/10/2019 Ação. O senador Fernando Bezerra negocia a inclusão do programa Renda Brasil em PEC do pacto federativo

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