O Estado de S. Paulo

‘A POPULARIDA­DE ME ASSUSTA, VOU PRECISAR ME ADAPTAR’

- /CECÍLIA RAMOS

Em tempos em que lives seriam um formato esgotado, as de Tadashi Kadomoto – de meditação – tem reunido mais de 20 mil pessoas por 40 minutos, na quarentena. São duas por dia, às 6h e às 20h, pelo seu Instagram, com 1,4 milhão de seguidores. Sem contar as que ele participa como convidado, como recentemen­te aconteceu com Abílio Diniz. O terapeuta não usa WhatsApp para poder dar conta de todo o resto. E viu que sua privacidad­e “já era”. Tem sido reconhecid­o na rua. “Tô meditando com você, comprei seu livro, me dá uma autógrafo?”, conta ele à coluna. “Preciso me adaptar”. Leia trechos da conversa:

• Você se tornou um terapeuta online. Bate até em você um desespero, uma ansiedade com o que estamos vivemos?

Quando começou a quarentena, eu perdi o chão. Porque estou há 33 anos trabalhand­o de forma presencial (no instituto que leva seu nome). Entrei numa ansiedade, numa inseguranç­a que não cabia em mim. O que me tirou desse estado de sofrimento foi a meditação. E o insight que tivemos em família (mulher e filhos trabalham com ele) foi: vamos ensinar as pessoas a meditarem. E aí começaram as lives e a ideia era fazer só durante sete dias. Estamos completand­o 200 dias. Começamos com duas mil pessoas, hoje são mais de 20 mil.

• Como pensa que será no pós-pandemia?

Olha, eu não me sentia bem com o online, mas nos reinventam­os. Pós-pandemia, voltaremos também ao presencial. Sinto falta de olhar nos olhos. Agora como vai ser? Não sei.

• A internet – e celular, em especial – é fonte de ansiedade, mas ao mesmo tempo está ‘salvando’ nesse momento. É uma contradiçã­o?

Não é a tecnologia e as redes sociais que pioraram a sociedade. As pessoas vigiam umas às outras ou a pessoa vive uma vida que não é a dela por conta própria. A tecnologia é caminho sem volta. Quem está errado é quem usa sem consciênci­a. A tecnologia é uma baita ferramenta que pode te ajudar a ser feliz, ser bem sucedido, ganhar dinheiro, ajudar as pessoas.

• Falar todo dia para mais de 20 mil pessoas é muita responsabi­lidade, como se prepara?

Me preparo um dia antes. Tem uma equipe que me ajuda também. Mas esse trabalho não é um peso, é uma alegria. Antes da pandemia, tínhamos 150 mil alunos (incluindo cursos online). Hoje, não saberia te dizer, é fora de controle. Mas a gente só volta para o presencial quando tiver vacina.

• Como está a popularida­de?

Fique seis meses fechado em casa com a família, mas na semana passada fomos pra praia. Estão me reconhecen­do na rua. Me falam: ‘Ah! Tô meditando com você, comprei seu livro, me dá uma autógrafo? Isso me assusta. Eu vou precisar me adaptar.

• Você é muito requisitad­o para falar dos outros, mas como você está?

Cansado. Fui pra praia porque falei: ‘Preciso de ar’. Nunca trabalhei tanto na vida. É uma loucura. Adoro o que faço mas a demanda é enorme. Não tenho mais agenda este ano.

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ERICH SACCO

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