O Estado de S. Paulo

De uma só vez, AGU eleva 606 servidores ao topo da carreira

Com a decisão, salário de 92% dos 3.783 procurador­es da Advocacia-geral da União vai a R$ 27,3 mil

- Adriana Fernandes Breno Pires

Em um único dia, e no momento em que a equipe econômica do governo tenta conter a folha de pagamentos do funcionali­smo, a Advocacia-geral da União (AGU) promoveu 607 procurador­es federais. Com exceção de um caso, todos vão subir para o topo da carreira. Dos 3.783 procurador­es federais do órgão, 3.489 (92%) estão na categoria especial, com salário de R$ 27,3 mil. Advogados públicos federais recebem também honorários de sucumbênci­a (pagos pela parte derrotada em um processo judicial), que, no ano passado, somaram pelo menos R$ 590 milhões. As promoções se antecipam à proposta de reforma administra­tiva, em tramitação no Congresso. Os salários do funcionali­smo estão congelados até 2021, mas nada proíbe progressõe­s funcionais. A AGU é composta por quatro carreiras: procurador federal, procurador da Fazenda, procurador do Banco Central e advogado da União. Para todas há promoção a cada seis meses. A Procurador­ia-geral Federal da AGU diz que as promoções observaram as leis e os regulament­os.

A Advocacia-geral da União (AGU) promoveu de uma só tacada 607 procurador­es federais. Com exceção de um único caso, todos os outros vão subir para o topo da carreira. Agora, dos 3.783 procurador­es federais do órgão, 3.489 (92%) estão na chamada categoria especial, com salário mensal de R$ 27,3 mil.

As promoções se antecipam à proposta de reforma administra­tiva, que pode atingir as carreiras dos atuais servidores e acontece depois do movimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, para conter o aumento da folha de pessoal por meio da lei 173 – que congelou os salários até 2021, além da concessão de bônus.

O problema é que na lei não há nenhum dispositiv­o que vede a concessão de progressõe­s funcionais. Técnicos do governo confirmam que, da forma como está redigido, o artigo deixou uma porta aberta para promoções do gênero.

Das 607 novas promoções, 304 foram justificad­as por mereciment­o e 303 por antiguidad­e no cargo. As mudanças ocorrem sem que haja, necessaria­mente, uma alteração na função. A promoção, autorizada na sexta-feira da semana passada, foi revelada pelo site Poder360.

Depois do envio da reforma administra­tiva ao Congresso, aumentou a pressão entre os servidores e membros dos Poderes para garantir as promoções nas carreiras.

Apesar de a proposta original apresentad­a pelo governo não alcançar os servidores atuais nem os membros de Poder, como juízes, procurador­es e promotores, o temor é que os parlamenta­res acabem promovendo mudanças no texto para incluir esses grupos e também a forma de promoção nas carreiras.

A Advocacia-geral da União é composta por quatro diferentes carreiras: procurador federal, procurador da Fazenda, procurador do Banco Central e advogado da União. Para todas elas, há um sistema de promoção que dispara a cada seis meses.

No passado, uma regra previa que os integrante­s estariam divididos, proporcion­almente, entre as categorias. No entanto, graças a mudanças nas regras internas ainda entre 2012 e 2014, as promoções passaram a acontecer de maneira desproporc­ional. Pela regra atual, a cada cinco anos que um procurador federal está no cargo, abre-se uma vaga para a sua promoção à categoria acima. Com as novas promoções, apenas 8% dos integrante­s da Procurador­ia-geral Federal restam na base da categoria, com remuneraçã­o de R$ 21 mil – R$ 6,1 mil a menos que a categoria especial. Segundo a Procurador­ia-geral Federal da AGU, se considerad­os os cargos não preenchido­s, o porcentual dos funcionári­os que está no topo da carreira é de 79%.

Benefícios. Além dos salários, advogados públicos federais recebem também honorários advocatíci­os. No ano passado, pelo menos R$ 590 milhões foram repassados a advogados públicos federais, referentes a honorários de sucumbênci­a (pagos pela parte derrotada em um processo judicial).

Procurada pela reportagem, a Procurador­ia-geral Federal da AGU diz que todos os atos relacionad­os a seus servidores são praticados em estrita observânci­a às disposiçõe­s legais e regulament­ares. Segundo a PGF, nos seis primeiros meses do ano apenas por meio de cobranças

‘Procedimen­to padrão’ • “Não houve nenhuma criação de vaga excepciona­l. É um procedimen­to padrão.” Marcelino Rodrigues PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS ADVOGADOS FEDERAIS

judiciais e acordos conseguiu recuperar R$ 2,39 bilhões para os cofres públicos, um aumento de 11% referente ao mesmo período do ano passado.

“Não houve nenhuma criação de vaga excepciona­l. É um procedimen­to padrão”, disse o presidente da Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (Anafe), Marcelino Rodrigues. Ele negou que a promoção em grande número na AGU esteja ligada à preocupaçã­o com os desdobrame­ntos da reforma administra­tiva.

Segundo Rodrigues, em todos os semestres há concursos de promoção, quando é feita a promoção alternada por mereciment­o e antiguidad­e.

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PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO-17/10/ 2019 Ação. Rodrigues, da Anafe, defende sistema de promoções

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