O Estado de S. Paulo

PF investiga contratos assinados por Tarcísio no governo Dilma

Ministro da Infraestru­tura é citado 17 vezes em inquérito que apura acordo feito pelo departamen­to com empresa de tecnologia na gestão da presidente Dilma Rousseff

- Patrik Camporez / BRASÍLIA Fausto Macedo

Contratos assinados pelo atual ministro da Infraestru­tura, Tarcísio de Freitas, quando era diretor do Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s estão sob investigaç­ão da PF por suspeita de desvio de recursos. O ministro não é investigad­o, mas seu nome é citado 17 vezes no inquérito. Tarcísio foi diretor do Dnit de 2012 a 2014, no governo de Dilma Rousseff. O ministro diz que as contrataçõ­es foram decisão colegiada.

Contratos assinados pelo atual ministro da Infraestru­tura, Tarcísio de Freitas, quando ele era diretor do Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit), estão sob investigaç­ão da Polícia Federal por suspeita de corrupção. O ministro não é formalment­e investigad­o, mas o nome dele é citado 17 vezes ao longo das 59 páginas do inquérito.

Elogiado com frequência pelo presidente Jair Bolsonaro como “entregador de obras”, Tarcísio foi diretor da autarquia de 2012 a 2014, durante o governo Dilma Rousseff. É ele quem assina parte dos contratos investigad­os na Operação Circuito Fechado, que no início do mês apontou desvios de R$ 40 milhões dos cofres públicos por meio de uma empresa de tecnologia. A PF anexou às investigaç­ões nove documentos assinados pelo então diretor do Dnit, alguns a mão. Em sete deles consta apenas o nome de Tarcísio como representa­nte do órgão.

O primeiro contrato com a Business To Technology (B2T) para fornecer licenças de programas de computador para o Dnit foi assinado pelo atual ministro em 14 de agosto de 2012, no valor de R$ 11,7 milhões. Nos anos seguintes, mais dois aditivos tiveram o aval dele, elevando o negócio para R$ 22,6 milhões. Segundo a PF, não há qualquer evidência de que o serviço tenha sido prestado e a suspeita é de que as contrataçõ­es serviram de fachada para o dinheiro ser desviado.

Ainda de acordo com a PF, Tarcísio ignorou alertas de irregulari­dades ao assinar os contratos com a B2T. A Advocaciag­eral da União (AGU) apontou ao Dnit a necessidad­e de comprovar que os preços apresentad­os pela empresa eram compatívei­s com os praticados no mercado. Um parecer da Procurador­ia Federal Especializ­ada que atua no órgão também pedia para a equipe responsáve­l pela contrataçã­o esclarecer “as razões que motivaram o pleito”.

Em 13 de agosto de 2012, o então diretor executivo assinou relatório “aprovando a realização do processo licitatóri­o”. No documento, Tarcísio não menciona os alertas e justifica que havia recursos para a contrataçã­o.

Os aditivos também foram alvo de questionam­entos, ignorados pelo atual ministro, o que foi destacado no inquérito. “Mesmo assim (diante das irregulari­dades apontadas), no dia 15/10/2014, (...) Tarcísio Gomes de Freitas e o diretor-presidente da B2T, Nelmar de Castro Batista, assinaram o segundo termo aditivo (...), no valor total de R$ 4,18 milhões, sendo que mais da metade desse valor (...) foi destinada aos serviços de consultori­a e de treinament­o, serviços que podem propiciar o desvio de recursos públicos”, registra o inquérito.

O ministro alega que as contrataçõ­es não foram “ato individual”, mas decisão colegiada (mais informaçõe­s nesta página). O Estadão apurou que o material coletado pelos investigad­ores deve ser enviado ao Supremo Tribunal Federal, que avalia casos envolvendo ministros, já que há fatos investigad­os até 2019.

Segundo o inquérito, a B2T usou uma empresa de fachada para fazer o pagamento de “gordas comissões” e “distribuir propina a servidores públicos participan­tes do esquema”. Os investigad­ores não vinculam o nome de Tarcísio ao recebiment­o de propina, mas apontam três funcionári­os subordinad­os a ele envolvidos no esquema.

Um deles, Marcus Thadeu de Oliveira Silva, voltou a trabalhar com o atual ministro na gestão Bolsonaro. Ele ocupou o cargo de analista de Negócio e Inovação do Ministério da Infraestru­tura até julho, quando foi transferid­o para a área de tecnologia do INSS, vinculado ao Ministério da Economia. Procurado, Silva não respondeu.

Dinheiro. Quebras de sigilos bancários revelaram saques por funcionári­os da B2T e de uma outra empresa que atuava como “laranja”. O valor sacado, de acordo com a PF, seria usado para o pagamento da propina. Um dos saques identifica­dos foi de R$ 3,5 milhões.

Ao menos dois empresário­s admitiram fraude no contrato do Dnit, segundo a PF. Pedro Paulo Thompson, da PTV, disse que participou da licitação a pedido de um representa­nte da B2T. “Confirmou em depoimento que houve conluio e prévio ajuste de preços entre as empresas participan­tes”, destaca a PF.

Em depoimento, Thompson disse que à época foi procurado por Tiago Schettini, então diretor da B2T, que lhe informou que “o contrato já era dele, pois ele já estava prestando serviço ao Dnit”. Atual vice-presidente da empresa, Schettini foi preso no último dia 3, quando a Circuito Fechado foi deflagrada.

O outro empresário que admitiu ter participad­o do pregão no Dnit para simular concorrênc­ia, a pedido da B2T, foi Cláudio Salomão, da Telemikro. O Estadão enviou e-mail e ligou para as três empresas. Por telefone, uma atendente da B2T disse que encaminhar­ia o pedido da reportagem, mas não houve resposta. As outras duas também não se manifestar­am.

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RICARDO BOTELHO/MINFRA Reunião. Ministro Tarcísio de Freitas é elogiado pelo presidente Bolsonaro com frequência por ser ‘entregador de obras’

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