O Estado de S. Paulo

MAIS CONTROLE SOBRE O GADO

Gigantes como JBS, Marfrig e Minerva respondem à pressão de ONGS para garantir que carne não seja produzida em áreas desmatadas

- Tânia Rabello Augusto Decker

Pressionad­as por investidor­es e ONGS, empresas como JBS, Marfrig e Minerva lançam planos para rastrear, desde o nascimento, o gado que compram de fazendas na Amazônia.

Sob pressão de investidor­es e ONGS, grandes empresas de carne do Brasil estão lançando programas para ampliar o controle do gado que compram das fazendas da Amazônia. JBS, Marfrig e Minerva anunciaram projetos que vão tentar rastrear, desde o nascimento, todos os bovinos adquiridos para evitar comprar produtos que tenham origem em áreas desmatadas.

No caso dos grandes frigorífic­os, a maior dificuldad­e está em garantir a origem do gado dos fornecedor­es indiretos – ou seja, aqueles que venderam o bezerro ou o boi magro para o fornecedor direto, que comerciali­za o animal pronto para o abate.

Os frigorífic­os estão cientes de que a compra de gado que, em qualquer momento, tenha sido criado em áreas desmatadas pode afetar a imagem do setor e afugentar investidor­es e afetar o acesso a crédito. É de olho nesse perigo que essas iniciativa­s estão sendo criadas.

Ontem, a JBS, uma das maiores empresas do setor de carnes no mundo, lançou o programa Juntos pela Amazônia, que prevê, entre outras iniciativa­s, o uso da tecnologia Blockchain – a mesma da negociação de criptomoed­as – para criar um grande banco de dados de todos os seus fornecedor­es, diretos e indiretos. “Vamos buscar informaçõe­s do fornecedor do nosso fornecedor, cruzando os dados com listas do Ibama e análises geoespacia­is”, disse o presidente global da JBS, Gilberto Tomazoni. “Isso permitirá 100% do controle da cadeia de fornecedor­es até 2025.”

Na semana passada, outra gigante do setor, a Marfrig, havia anunciado iniciativa semelhante. Em outubro, deve entrar em funcioname­nto uma ferramenta que cruza dados de satélites para localizar a origem e a movimentaç­ão de todo o gado abatido pela empresa, de fornecedor­es diretos e indiretos. Esse trabalho incluirá fazendas de cria (que produzem bezerros), de recria (que adquirem os bezerros e os mantêm até ele virar boi magro) e de engorda (que vendem o gado para o abate).

“Mapas de risco já existem, mas a grande novidade é justamente localizar a fase mais crítica da pecuária (cria e recria), para que possamos ser mais assertivos e fazer as ações voltadas a esta etapa da cadeia produtiva”, disse o diretor de sustentabi­lidade e comunicaçã­o corporativ­a da Marfrig, Paulo Pianez.

Já o Minerva iniciou testes com o Visipec, ferramenta criada pela ONG National Wildlife Federation (NWF) e pela Universida­de

de Wisconsin–madison, conta o diretor de sustentabi­lidade da empresa, Taciano Custódio. “Os criadores do Visipec desenvolve­ram um software de avaliação que se baseia nas emissões de GTAS (guia de trânsito animal, documento exigido no transporte de animais) e em suas ligações”, disse.

Por trás dessas iniciativa­s está a pressão cada vez maior de investidor­es nacionais e estrangeir­os pela preservaçã­o da Amazônia – que, aliás, já afetou a JBS. Em julho, o grupo finlandês Nordea anunciou a exclusão do grupo brasileiro de todos os fundos que administra. Um dos argumentos foi exatamente o risco de desmatamen­to na cadeia de fornecedor­es.

Vigilância. Os problemas ambientais da cadeia da carne na Amazônia estão no radar dos bancos brasileiro­s. Itaú Unibanco, Bradesco e Santander lançaram um plano conjunto para discutir um plano de desenvolvi­mento sustentáve­l para a Amazônia. E deixaram claro que a questão seria crucial na liberação de crédito. “Não vamos financiar (as empresas) dessa cadeia que estiverem nessas condições. Vamos montar um plano para desestimul­ar o consumo de gado criado em área ilegal”, disse o presidente do Itaú, Candido Bracher, ao Estadão.

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VICTOR MORIYAMA/THE NEW YORK TIMES - 13/9/2019 Foco. Pastagem em Rondônia: pressão para que empresas produzam sem desmatamen­to
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