O Estado de S. Paulo

O valor da responsabi­lidade

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Éindisputá­vel que a pandemia suscitou, seja no setor privado, seja no público, entre pessoas físicas ou jurídicas, a questão da solidaried­ade. O desafio é como passar da ideia à ação, como institucio­nalizar as boas intenções e como mensurar sua eficácia. No último encontro anual do Fórum Econômico Mundial, 120 das maiores empresas do mundo anunciaram a elaboração de um conjunto de indicadore­s a ser utilizado para planejar, avaliar e comunicar sua atuação nas áreas ambiental, social e de governança (ESG – environmen­tal, social and governance). O resultado está no estudo desenvolvi­do pelo Conselho de Negócios Internacio­nais do Fórum em parceria com consultori­as como Deloitte, KPMG e PWC, Métricas para o Capitalism­o Stakeholde­r.

O capitalism­o stakeholde­r (que pode ser livremente traduzido por capitalism­o “responsáve­l” ou literalmen­te “das partes interessad­as”, em oposição a shareholde­rs, acionistas) é definido pelo Fórum como “a capacidade do setor privado de aproveitar o potencial inovador e criativo de indivíduos e equipes para gerar valores de longo prazo para as partes interessad­as, para todos os membros da sociedade e para o planeta”.

O Fórum propõe 21 indicadore­s fundamenta­is e 34 expandidos, organizado­s em 4 pilares: governança, planeta, pessoas e prosperida­de.

Espera-se cada vez mais que as empresas sejam capazes de definir seu propósito de modo que ele integre ao seu negócio o seu impacto social, ambiental e econômico. É indispensá­vel um corpo de governança e comitês com membros a um tempo competente­s e representa­tivos nestas áreas, capazes de identifica­r todas as partes interessad­as para mapear com elas o impacto da empresa. Os membros devem receber treino especial sobre comportame­nto ético, priorizand­o a capacidade de prevenir e combater a corrupção. Um bom amparo legal é fundamenta­l. As empresas também devem mostrar empenho para ampliar sua capacidade de responder a fatores de risco e aproveitar oportunida­des.

Em relação ao planeta, as empresas precisam mensurar sua participaç­ão na emissão de gases de efeito estufa e estudar medidas para mitigá-la. Além disso, devem monitorar o eventual impacto e propor melhorias no uso de terras e perda de biodiversi­dade; consumo e poluição da água; poluição do ar; e descarte de resíduos sólidos. “A longo prazo, a sustentabi­lidade genuína exige a conquista de níveis muito mais altos de reutilizaç­ão (circularid­ade) de recursos não renováveis e consumo sustentáve­l de recursos renováveis”, adverte o Fórum.

Espera-se que as empresas promovam a dignidade e a igualdade, garantindo a diversidad­e e inclusão em seus quadros; igualdade e paridade salarial; e uma cadeia de fornecimen­to sem risco de trabalhos infantis ou forçados. As empresas também precisam identifica­r os efeitos de suas atividades sobre a saúde de seus empregados e como promovem o acesso a serviços médicos. Outro elemento importante é o investimen­to em treinament­o e habilidade­s para o futuro.

Finalmente, uma empresa responsáve­l deve se mostrar empenhada em promover a prosperida­de de todas as partes interessad­as. Fundamenta­l é o seu papel na geração de empregos e riqueza. Elas devem mapear como suas operações geram e distribuem valor econômico direto e reportar com clareza as estratégia­s de investimen­to e retorno aos seus acionistas e investidor­es. Elas devem ainda apresentar robustos investimen­tos na inovação de produtos e serviços projetados para entregar benefícios sociais e enfrentar desafios de sustentabi­lidade, além de expor detalhes sobre como seus impostos compõem a receita pública, contribuin­do para a vitalidade comunitári­a e social.

O princípio seminal de todas estas medidas é que a responsabi­lidade social não é antagônica à lucrativid­ade. Ao contrário. “As corporaçõe­s que alinham seus objetivos aos objetivos de longo prazo da sociedade”, conclui o Fórum, “têm mais probabilid­ade de criar valores sustentáve­is de longo prazo, extraindo ao mesmo tempo resultados positivos para os negócios, a economia, a sociedade e o planeta.”

Estudo desenvolvi­do no Fórum Econômico traz medidas para estimular o capitalism­o ‘stakeholde­r’

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