O Estado de S. Paulo

Barros se alia a petista para mudar Lei de Improbidad­e

Crítico à atuação do Ministério Público, líder do governo age para levar projeto à votação

- Breno Pires Camila Turtelli

Líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressis­tas-pr) se aliou ao deputado de oposição Carlos Zarattini (PT-SP) para defender um projeto que abranda a Lei de Improbidad­e Administra­tiva. Barros é crítico da Lava Jato e vê com ressalvas a atuação do Ministério Público Federal.

A proposta é vista no Congresso como uma nova forma de restringir os poderes de procurador­es, na esteira da reação contra a Lava Jato, um ano após a aprovação da Lei de Abuso de Autoridade. Articulado­r político do presidente Jair Bolsonaro no Parlamento, Barros tem ajudado Zarattini, que é o relator do projeto, a levar o texto à votação. Para que a matéria tenha prioridade, por meio de requerimen­to de urgência, é necessário o apoio de 171 deputados.

“A atividade política se transformo­u no alvo principal da ação do Ministério Público”, disse Barros ao Estadão/broadcast. “A Lei de Abuso de Autoridade veio em uma direção correta. Agora, a mudança que estamos propondo na lei de improbidad­e vai acabar com essa história de improbidad­e por ofensa a princípios da Constituiç­ão, que é muito aberta e só gera desgaste. Noventa por cento dessas denúncias não dão em nada. A culpa é também do Parlamento, que tem de mudar a lei.”

O texto substituti­vo apresentad­o por Zarattini afrouxa a lei e exclui a possibilid­ade de punição a uma série de condutas hoje vedadas, como mostrou o Estadão. Práticas como nepotismo e “furada de fila” em serviços públicos, por exemplo, não resultaria­m mais em sanção por improbidad­e. O projeto prevê, ainda, limitar as situações em que um juiz pode determinar o bloqueio de bens dos acusados e encurta prazos de prescriçõe­s. Na prática, a proposta restringe as sanções apenas a casos em que houver comprovada­mente enriquecim­ento ilícito ou dano aos cofres públicos.

O Ministério Público Federal criticou o projeto. Nota técnica da 5.ª Câmara de Coordenaçã­o e Revisão, responsáve­l por supervisio­nar discussões legislativ­as envolvendo irregulari­dades com dinheiro público, diz que a medida representa “um dos maiores retrocesso­s no combate à corrupção e na defesa da moralidade administra­tiva”.

Flexibiliz­ação.

O texto original foi preparado por juristas convidados pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ). Sob a presidênci­a do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Mauro Campbell, a comissão já havia proposto a flexibiliz­ação da lei. O substituti­vo de Zarattini, porém, abrandou ainda mais a proposta, de acordo com integrante­s da comissão de juristas.

Procurado, Campbell disse que vai discutir o projeto com o relator antes de se manifestar.

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GABRIELA BILO/ESTADÃO–21/8/2020 Câmara. Para Barros, atividade política virou alvo do MPF

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