O Estado de S. Paulo

Assembleia aprova prosseguim­ento de impeachmen­t de Witzel

Deputados votam a favor da continuida­de do processo; afastado do cargo, governador diz ser vítima de ‘injustiça’

- Caio Sartori

A Assembleia Legislativ­a do Rio aprovou ontem, por 69 votos favoráveis e nenhum contrário, o encaminham­ento do processo de impeachmen­t do governador afastado Wilson Witzel (PSC) por crime de responsabi­lidade. Agora, o Tribunal de Justiça (TJ) será comunicado oficialmen­te da decisão da Casa e, em gesto de mera formalidad­e, vai atestar o afastament­o promovido pela Alerj.

Em seguida, cinco desembarga­dores e cinco deputados vão compor um tribunal misto para analisar a cassação do mandato. Se sete dos dez votos forem pela condenação, Witzel será afastado definitiva­mente do cargo.

Witzel já está temporaria­mente – por 180 dias – fora do cargo por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele foi denunciado duas vezes pelo Ministério Público Federal (MPF) por suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa, em desvios de recursos da Saúde durante o combate à pandemia do novo coronavíru­s.

A votação de ontem se deu após a comissão especial aprovar, por unanimidad­e, na semana passada, o parecer do relator, o deputado Rodrigo Bacellar (SD). Na tribuna, deputados fizeram duras críticas ao governador afastado. Nenhum parlamenta­r saiu em defesa do mandatário. Também não havia grupos em apoio ao governador na porta do Palácio Tiradentes, como é comum nesse tipo de votação. E as galerias da Casa estavam fechadas por causa da pandemia da covid-19.

Witzel, que tinha anunciado que estaria presente na sessão, se defendeu por vídeo, em transmissã­o ao vivo. Em cerca de uma hora de argumentaç­ão, o governador afastado afirmou ser alvo de “injustiça”, e procurou dividir a responsabi­lidade com os parlamenta­res.

“O que tem acontecido é algo absolutame­nte injusto. Não tive o direito de falar nem na Assembleia nem nos tribunais. Estou sendo linchado politicame­nte, sem direito de defesa”, disse. Em seguida, Witzel afirmou que jamais apoiou “a extrema direita que está no poder” no País – ele foi eleito vinculando seu nome aos Bolsonaros – e criticou Ministério Público e Judiciário. “Por essas razões, estamos matando nossa democracia. O valor maior é o voto e cada mais o respeito e a força do voto estão sendo solapados. Decisões

judiciais de natureza preliminar­es... Eu fui afastado do direito de falar, do meu direito de defesa sem poder me pronunciar.”

Quando se dirigiu aos deputados, Witzel disse que sempre deu espaço para conversar. “Se eu fui omisso, todos os senhores e as senhoras foram omissos”, afirmou. “E agora vão me acusar de crime de responsabi­lidade?”

Ele lembrou ainda que a Assembleia já homenageou o ex-secretário de Saúde Edmar Santos, que virou delator, com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria do Legislativ­o fluminense.

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO Rito. Alerj já aprovou parecer favorável a impeachmen­t

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