O Estado de S. Paulo

Repaginada, CPMF volta ao debate na reforma tributária

Para tentar diminuir resistênci­as ao tributo, governo oferece apoio à aprovação de reforma da Câmara dos Deputados

- Adriana Fernandes

Para tentar reduzir as resistênci­as, o governo negocia na Câmara um acordo para uma “dobradinha” de aprovação da reforma tributária em troca da criação da nova CPMF repaginada com a desoneraçã­o da folha de pagamento (dos encargos que as empresas pagam sobre os salários dos funcionári­os). A estratégia é uma proposta “pegar carona” na outra.

Pelo acordo em construção, a CPMF seria incluída na proposta de reforma tributária que está em tramitação na Câmara, a PEC 45, que está com dificuldad­es de avançar sem o apoio de todos os líderes do Centrão. O acordo garantiria ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que já declarou mais de uma vez que é contrário à recriação do tributo, um “golaço” com a aprovação de mais uma reforma ainda este ano, na expressão de um líder que pediu anonimato.

Maia é hoje o principal opositor da CPMF e já disse que durante o seu mandato na presidênci­a da Casa, que termina no início de 2021, a CPMF não passa. Ele continua contra a CPMF, mas lideranças avaliam que o presidente da Câmara pode mudar de posição em troca do apoio do governo para a proposta de reforma tributária que está na Câmara. Foi Maia quem patrocinou a PEC 45.

Segundo apurou o Estadão, lideranças partidária­s contrárias à nova CPMF cobraram do ministro da Economia, Paulo Guedes, a apresentaç­ão de estudo detalhado do impacto da criação do novo tributo no cresciment­o aliado à desoneraçã­o da folha de pagamentos para compensar a aprovação do que consideram um “mostrengo”.

Alternativ­os. Ontem, Guedes afirmou que o governo estuda um “programa de substituiç­ão tributária”. Sem citar o retorno de uma nova CPMF, o ministro disse que para gerar emprego é necessário desonerar a folha e, por isso, seria preciso considerar “tributos alternativ­os”, mas não detalhou o plano. “As prioridade­s são emprego e renda na retomada do cresciment­o dentro do nosso programa de responsabi­lidade fiscal”, disse. “Queremos desonerar, queremos ajudar a criar emprego, facilitar a criação de empregos? Então, vamos fazer um programa de substituiç­ão tributária”, disse no Palácio do Planalto.

Sem esse estudo, líderes ouvidos pelo Estadão avaliam que é muito difícil a conversa avançar nas negociaçõe­s. Segundo apurou o Estadão, o ministro prometeu apresentar a proposta na próxima semana. O compromiss­o

• Em busca de detalhes Lideranças partidária­s contrárias à nova CPMF cobraram do ministro da Economia, Paulo Guedes, a apresentaç­ão de estudo detalhado do impacto da criação do novo tributo

com os deputados é a proposta da desoneraçã­o e do novo tributo entrar pela Câmara.

As conversas se intensific­aram depois de almoço, que reuniu na residência do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), Guedes, o relator da reforma tributária, Aguinaldo Ribeiro com o autor da PEC 45 e líder do MDB, Baleia Rossi (SP). Aguinaldo intensific­ou reuniões com a equipe econômica.

Ao Estadão, Baleia Rossi, disse que está aberto ao diálogo. “Conceitual­mente, me posicionei contra a CPMF com ela, mas acho que é importante fazer o debate”, disse. Se o governo tem uma proposta diferente da CPMF do passado a Câmara tem o dever de discutir e verificar o impacto da desoneraçã­o na economia.

Já o presidente da comissão da reforma tributária no Congresso, senador Roberto Rocha (PSDB-MA), disse que a criação da nova CPMF é um assunto delicado e que pode contaminar toda a discussão da reforma tributária.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil