O Estado de S. Paulo

Investimen­tos de estrangeir­os no País recuam 85%

Volume registrado em agosto foi de US$ 1,4 bi, ante US$ 9,5 bi em 2019; ainda assim, contas externas tiveram o 5º superávit seguido

- Fabrício de Castro Eduardo Rodrigues /

As contas externas registrara­m superávit de US$ 3,721 bilhões em agosto deste ano, segundo números divulgados ontem pelo Banco Central. Esse foi o quinto mês seguido de resultados positivos. No entanto, os investimen­tos estrangeir­os no País caíram 85% em agosto, na comparação com o mesmo período de 2019. No mês, as aplicações somaram US$ 1,4 bilhão, ante US$ 9,5 bilhões em agosto do ano passado.

Na terça-feira, em discurso na Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro disse que os investimen­tos diretos no País aumentaram no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2019. “Isso comprova a confiança do mundo em nosso governo”, afirmou a outros líderes mundiais

Os números do próprio BC, no entanto, o desmentem. O Brasil registrou no primeiro semestre de 2020 um total de US$ 25,349 bilhões de Investimen­to Direto no País (IDP), valor inferior aos US$ 32,233 bilhões registrado­s no primeiro semestre do ano passado.

O Banco Central também informou que os investimen­tos estrangeir­os diretos na economia brasileira somaram US$ 26,957 bilhões de janeiro a agosto deste ano. Com isso, houve queda de 41% frente ao mesmo período de 2019, quando somaram (US$ 46 bilhões). O valor é o menor para o período desde 2009, quando totalizara­m US$ 18,972 bilhões. Ou seja, foi a menor entrada de investimen­tos no país em 11 anos.

De acordo com o chefe do Departamen­to de Estatístic­as do BC, Fernando Rocha, o investimen­to direto se caracteriz­a por uma relação de longo prazo entre a empresa investida, que está no Brasil, e a investidor­a, no exterior.

Situação inédita. “O que estamos vivendo hoje é uma situação internacio­nal pode-se dizer inédita e afeta de formas diferencia­das os componente­s do balanço de pagamentos, como o investimen­to direto. O mais provável é que [os investimen­tos estrangeir­os] voltem quando a situação tiver um menor nível de incerteza aos patamares anteriores”, disse.

Além disso, os números do BC mostram retirada pelos investidor­es de US$ 28,281 bilhões de aplicações financeira­s no Brasil nos oito primeiros meses deste ano. O valor inclui ações, fundos de investimen­tos e títulos da renda fixa.

Segundo ao BC, essa é a maior saída de recursos de aplicações financeira­s da economia brasileira desde o início da sua série histórica em 1995, ou seja, em 26 anos. No mesmo período do ano passado, US$ 7,509 bilhões ingressara­m no país em aplicações financeira­s.

Mesmo assim, os investimen­tos estrangeir­os foram suficiente­s para cobrir o rombo das contas externas no acumulado deste ano (US$ 8,539 bilhões). Quando o déficit não é “coberto” pelos investimen­tos estrangeir­os, o País tem de se apoiar em outros fluxos, como ingresso de recursos para aplicações financeira­s, ou empréstimo­s buscados no exterior, para fechar as contas.

O resultado de transações correntes, um dos principais do setor externo do país, é formado pela balança comercial (comércio de produtos entre o Brasil e outros países), pelos serviços (adquiridos por brasileiro­s no exterior) e pelas rendas (remessas de juros, lucros e dividendos do Brasil para o exterior).

A melhora no resultado das contas externas neste ano é fruto do saldo positivo da balança comercial brasileira, que tem sustentado bons números em meio à pandemia da covid-19, principalm­ente por conta da queda de importaçõe­s.

Além disso, déficits menores nas contas de serviços e renda também têm sido registrado­s, em razão do desaquecim­ento da economia mundial e do fechamento de fronteiras – este último fator contribuiu para o menor gasto de brasileiro­s no exterior em 16 anos em agosto.

O número de agosto ficou acima do teto do levantamen­to realizado pelo Projeções Broadcast, que tinha intervalo de superávit de US$ 1,63 bilhão a US$ 3,20 bilhões (mediana positiva de US$ 2,40 bilhões).

Segundo o BC, na parcial dos oito primeiros meses deste ano, a conta de transações correntes registrou um déficit de US$ 8,539 bilhões, o que representa uma queda de 75% frente ao mesmo período do ano passado (-US$ 34,020 bilhões).

Gastos de brasileiro­s. Os gastos de brasileiro­s no exterior somaram US$ 267 milhões em agosto. Na comparação com o mesmo mês de 2019, quando as despesas em outros países totalizara­m US$ 1,309 bilhão, a queda foi de 79%. Este também foi o menor valor para o mês de agosto desde 2004, ou seja, em 16 anos.

O recuo se deu em meio à disparada do dólar e à escalada das tensões acerca do novo coronavíru­s, que resultou no fechamento de fronteiras e na suspensão de voos por alguns meses.

A moeda norte-americana tem registrado forte alta neste ano por conta da pandemia, com os investidor­es avaliando o impacto do pacote de estímulo nas contas públicas – que vêm registrand­o forte deterioraç­ão. De janeiro a agosto, a alta do dólar acumulada foi de 36,69%.

Com a disparada do dólar, as viagens de brasileiro­s ao exterior ficam mais caras. Isso porque as passagens e as despesas com hotéis, por exemplo, são cotadas em moeda estrangeir­a.

No acumulado dos oito primeiros meses deste ano, ainda segundo informaçõe­s do Banco Central, os gastos de brasileiro­s no exterior somaram US$ 4,110 bilhões.

Na comparação com o mesmo período de 2019, quando as despesas no exterior totalizara­m US$ 12,014 bilhões, a queda foi de 66%.

De acordo com dados do BC, em agosto deste ano os estrangeir­os gastaram US$ 146 milhões no Brasil, com forte queda frente ao patamar registrado no mesmo mês de 2019 (US$ 468 milhões).

Situação internacio­nal • “O que estamos vivendo hoje é uma situação internacio­nal pode-se dizer inédita e afeta de formas diferencia­das componente­s do balanço de pagamentos.” Fernando Rocha CHEFE DE ESTATÍSTIC­AS DO BC

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