Em novo dia de tensão, dólar vai a R$ 5,58 e Bolsa cai 1,6%
Mercado reflete temor de que uma segunda onda da covid possa afetar recuperação da economia mundial
O cenário externo voltou a pesar ontem no mercado financeiro. O dólar subiu 2,15% ante o real e fechou o dia em R$ 5,58, voltando aos maiores níveis de agosto. Na Bolsa, o resultado não foi melhor. Com queda de 1,6%, o Ibovespa voltou para a marca dos 95 mil pontos, patamar registrado no fim de junho.
As perdas da Bolsa em setembro chegam agora a 3,66%, superando o recuo registrado em agosto (3,44%), quando a recuperação iniciada em abril foi interrompida.
Uma série de discursos de integrantes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), cobrando do presidente Donald Trump medidas fiscais para amparar a economia, ampliou o mau humor dos mercados globais, já afetados desde cedo pelo temor dos efeitos de uma segunda onda de covid-19 – que já ameaça países da Europa.
Estudo científico feito em Houston, no Texas, apontou que as mutações do novo coronavírus nos EUA podem tê-lo tornado mais contagioso. A notícia foi interpretada pelo mercado como uma dificuldade adicional para a eficácia das vacinas que estão sendo produzidas contra a doença.
O presidente do Fed de Mineápolis, Neel Kashkari, disse que o BC americano está “fazendo o que pode”, mas suas ferramentas são limitadas e precisariam ser complementadas por iniciativas no campo fiscal. “O Fed tem sinalizado que já fez a parte que lhe cabia, derrubando os juros e provendo liquidez à economia. Sutilmente, tem passado a bola para o Congresso, que precisa decidir se haverá uma nova rodada de estímulos fiscais”, diz Shin Lai, estrategista-chefe da Upside Investor Research, acrescentando que os mais recentes dados americanos, especialmente os de consumo, sugerem a necessidade de que mais dinheiro chegue à população.
Em Nova York, os principais índices do mercado acionário tiveram perdas mais fortes, sendo que o Nasdaq perdeu 3,02%, o Dow Jones cedeu 1,92% e o S&P 500, 2,37%. O chamado risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos (derivativo de crédito que protege contra calotes na dívida soberana), deu um salto de 20 pontos e chegou a 250 pontos, o que representa o maior nível desde o final de junho.
Para o estrategista e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, os indicadores mostram uma “acomodação” do crescimento mundial. “A segunda onda está aí”, diz ele. Kawa ressalta que a letalidade da covid agora deverá ser menor do que na primeira onda, o que abre a possibilidade para medidas de isolamento mais brandas. Ainda assim, acrescenta, terão impacto negativo na atividade. Para ele, a incerteza sobre os rumos da atividade mundial deve durar de dois a quatro meses, o que pode deixar o mercado mais volátil neste período.
‘Mar de incertezas’. Em meio “ao mar de incertezas cada vez maior” na economia mundial sobre o ritmo de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB), o analista de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo, destaca que o dólar se fortaleceu e testou máximas ante várias moedas. Foi ao nível mais alto em dois meses ante o euro e a libra; ao patamar mais elevado em seis semanas ante o dólar canadense e desde agosto ante o dólar da Austrália e o da Nova Zelândia.
Entre os países emergentes, o dólar subiu 3,2% ontem no México, às vésperas da decisão de política monetária do Banxico – que deve cortar novamente os juros, para 4,25% ao ano, o sexto corte consecutivo.