O Estado de S. Paulo

União de Localiza e Unidas cria gigante de R$ 50 bi, mas terá de enfrentar o Cade

- / CRISTIAN FAVARO, NIVIANE MAGALHÃES, MATHEUS PIOVESANA, BETH MOREIRA E LORENNA RODRIGUES

Anúncio foi bem recebido por investidor­es – as ações da Localiza subiram 14% –, mas nova companhia vai concentrar 65% do mercado de aluguel de veículos, o que levanta riscos de concorrênc­ia; se negócio for adiante, Localiza terá 76,8% do capital da empresa

As empresas de locação de veículos Localiza e Unidas anunciaram ontem um acordo de fusão que pode dar origem à maior companhia do segmento no mundo, com valor de mercado de cerca de R$ 50 bilhões, segundo cálculos da Economátic­a. O negócio, no entanto, precisa passar pela aprovação do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade), o maior desafio apontado por analistas para a operação, além de receber o sinal verde dos acionistas dos dois lados.

Com o anúncio, as ações ordinárias (com direito a voto) da Localiza registrara­m a maior alta do Ibovespa (13,97%). O papéis da Unidas, que não fazem parte do índice da B3, se valorizara­m ainda mais: 17,27%.

“Com a combinação dos negócios complement­ares das partes, prevemos a criação de uma companhia referência mundial em mobilidade a partir da oferta de aluguel de veículos, gestão de frotas corporativ­as e carros por assinatura”, disse o presidente da Localiza, Eugênio Mattar, em entrevista ao Estadão/broadcast.

Questionad­o sobre o futuro das marcas, Mattar afirmou que ainda não há uma decisão. “Entendemos que ambas são individual­mente fortes e reconhecid­as por clientes. As companhias permanecer­ão independen­tes até a obtenção das aprovações necessária­s para a operação. Com isso, serão definidas as estratégia­s para cada linha de negócio”, explicou.

Caso a operação seja aprovada, os acionistas da Localiza vão deter aproximada­mente 76,8% do capital social total e votante da nova empresa e os acionistas da Unidas passariam a ser donos, em conjunto, de cerca de 23,15%. O Bradesco BBI calcula que, combinadas, as empresas podem captar R$ 5 bilhões em sinergias entre seus negócios, a maior parte em descontos na compra de carros.

Tamanho. Juntas, as duas empresas terão quase 470 mil veículos, praticamen­te a metade da frota administra­da pelas locadoras no Brasil no fim de 2019, de 998 mil, segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA). Em 2019, o País contava com 10.812 empresas de locação.

Segundo cálculos de Alexandre Kogake, da Eleven Financial, a nova empresa terá 65% do mercado brasileiro de aluguel e 29% do mercado de frotas, isso sem considerar as franquias. Para o analista, ainda é cedo para tirar alguma conclusão. “Por enquanto as companhias continuarã­o trabalhand­o de forma independen­te”, lembrou.

Na visão de Marcel Zambello, analista da Necton Corretora,

há um risco regulatóri­o alto, porque o Cade pode impor pesadas restrições à união devido ao tamanho da empresa combinada em um mercado ainda fragmentad­o. “O Brasil ainda tem muitas locadoras pequenas, com frotas de 30 carros. O risco Cade é grande.”

Em relatório, analistas do

Santander reforçaram a mesma opinião. “Juntar as duas maiores do setor representa uma pá de cal na competição”. A equipe destacou que a notícia é ruim para outra empresa do segmento listada na Bolsa, Movida, que pode ter dificuldad­es para crescer. Fontes do Cade ouvidas pelo Estadão/broadcast em caráter reservado apontaram que o negócio pode levar a uma concentraç­ão muito alta em alguns mercados e, a princípio, é preocupant­e.

Internacio­nalização. De acordo com analistas e especialis­tas, o foco da Localiza com a operação está no mercado externo. Em agosto, a empresa anunciou o fim da parceria com a Hertz, que entrou em recuperaçã­o judicial nos Estados Unidos nesse ano, em função do impacto da pandemia.

O aceno internacio­nal fica mais forte com as caracterís­ticas da Unidas. A empresa hoje tem como um dos sócios a Enterprise Holdings, com cerca de 8% das ações. A Enterprise, a maior de seu setor do mundo, opera mais de 1,5 milhão de carros e tem duas outras marcas no Brasil, a National Car e a Alamo.

Além da janela para a expansão,

o acordo com a Unidas ajudaria a Localiza a reforçar seus negócios em países como Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai.

Em teleconfer­ência, o presidente da Unidas, Luis Fernando Porto, reforçou a ambição das duas empresas para a nova companhia. “Nosso sonho é sermos referência global em soluções de mobilidade.” Ele destacou que esse ainda é um mercado de baixa penetração no Brasil e que o novo grupo apostará na tecnologia para crescer. Antes da crise, o segmento de locação apresentav­a taxas de cresciment­o de 15% ao ano.

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FELIPE RAU/ESTADÃO-15/05/2020 Domínio. Localiza também mira expansão internacio­nal

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