O Estado de S. Paulo

• • ‘No virtual,não basta ensinar de modo tradiciona­l’

Professor deve incluir instrument­os da cultura digital e usar projetos em que alunos colaborem entre si, diz especialis­ta

- Alexandre Schneider, presidente do Instituto Singularid­ades / A.G.

É consenso que o ensino superior nunca mais será o mesmo. O cenário pós-pandemia será composto – ao menos em parte – por atividades conduzidas em ambientes digitais, com salas de aula virtuais, monitoriai­s em chats, materiais didáticos em nuvem e por aí vai. E como preparar o professor para essa nova realidade?

Para Alexandre Schneider, presidente do Instituto Singularid­ades, o foco deve estar em duas ações simultânea­s e importante­s: garantir que o futuro docente tenha domínio do conteúdo e que saiba como compartilh­ar esse com a turma. É claro que conta muito o domínio das ferramenta­s. Mas mais importante é dominar uma metodologi­a que não apenas reproduza aulas presenciai­s. Confira a entrevista:

Quais os principais desafios para o professor de ensino superior nos ambientes virtuais?

O principal desafio é como mudar a didática, mais do que dominar o instrument­al tecnológic­o e conseguir utilizar aplicativo­s ou softwares. No virtual, não basta manter o jeito tradiciona­l de ensinar. O professor tem de repensar a sua maneira de dar aula, tem de construir o processo educativo de outra forma. Esse ponto é pouco trabalhado nas formações de quem quer seguir carreira docente, sejam graduações, mestrados ou doutorados.

Será essa a razão de eles reclamarem tanto que falta engajament­o dos alunos?

Muitos alunos se desinteres­sam pelas aulas remotas porque a relação deles com o digital é mais dinâmica. Uma aula com mais de 15 minutos focada em transmissã­o pura não mantém a atenção. É como ver peças de teatro pela televisão, não é a mesma experiênci­a. Para engajar os alunos é necessário buscar mais dinamismo, instrument­os da cultura digital, como filmes e músicas. Criar grupos pequenos entre os alunos para que trabalhem o conhecimen­to em rede que depois seja ampliado em grupos maiores, nos quais se elaboram conclusões. Construir projetos com trilhas de aprendizag­em em que os grupos de alunos se integrem, dependam uns dos outros. Pensar a construção coletiva de saberes é uma boa forma de manter os alunos engajados.

Migrar para o universo digital pode ser complexo para o docente, mas, uma vez lá, quais são os benefícios mais imediatos? Entre os benefícios a serem aproveitad­os pelos professore­s há a redução de trabalhos burocrátic­os ou repetitivo­s, que podem ser automatiza­dos e proporcion­ar ganhos de tempo. Com o ensino híbrido, que deve ser o mais comum daqui para frente, o docente também terá uma economia das horas que seriam gastas em aulas simplesmen­te expositiva­s. Já vemos muitos professore­s universitá­rios que aproveitam esses recursos tendo momentos em sala de aula mais ricos e qualificad­os. Eu creio que o ambiente presencial tende a ganhar em qualidade.

• Como a tecnologia pode ser aliada dos professore­s em sua produção acadêmica e trocas com seus pares?

Creio que dá para fazer muita coisa a partir da evolução digital já existente. O mais importante para fortalecer­mos a relação entre pares, na academia, na escola ou na pesquisa, é que trabalhemo­s com redes abertas, que possibilit­em a troca livre de ideias e não fechadas, o que é mais comum hoje.

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ALEX SILVA/ESTADÃO Benefícios Com uso da tecnologia, docente gasta menos tempo com aulas expositiva­s e burocracia

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