O Estado de S. Paulo

Anhangabaú fica para fim de outubro

Prefeitura adia mais uma vez a conclusão das obras na região central da capital paulista

- Priscila Mengue

Inicialmen­te prevista para domingo passado, a entrega do “novo” Vale do Anhangabaú foi remarcada. A conclusão da obra ficou para 30 de outubro, a menos de três semanas das eleições em que o prefeito Bruno Covas (PSDB) tenta a reeleição. A transforma­ção do centro da cidade é uma de suas principais bandeiras.

Prevista para o domingo passado, a entrega da remodelaçã­o do Vale do Anhangabaú foi mais uma vez remarcada, em meio a um cenário de atrasos e encarecime­nto da obras e, ainda, de redução no valor da concessão do espaço à iniciativa privada. A conclusão ficou para 30 de outubro, 16 dias antes das eleições, em que o prefeito Bruno Covas (PSDB) tenta a reeleição, tendo a transforma­ção do centro de São Paulo como uma das principais bandeiras.

A nova data foi oficializa­da no sábado, n o nono aditamento do contrato assinado com o Consórcio Central em 2017. O valor também mudou. Subiu 17,4%, de R$ 79,9 milhões para R$ 93,8 milhões. É quase metade do custo do contrato de concessão por dez anos do espaço, avaliado em R$ 49,2 milhões, que inclui despesas, investimen­tos e outorgas.

Em documentos a que o Estadão teve acesso, de 9 de setembro, o consórcio alega que não é possível entregar a obra dentro do prazo e pede adiamento para 28 de fevereiro. Antes disso, em agosto, já havia pedido um prolongame­nto da execução até 20 de dezembro. Entre os motivos alegados estão o que chama de “diversas alterações no projeto”, referentes a redes de telecomuni­cações, água, esgoto, gás e energia, e à pandemia do novo coronavíru­s, que teria exigido o afastament­o de parte dos trabalhado­res.

No cronograma sugerido em documento assinado pelo gerente de uma das integrante­s do consórcio, nenhuma fase da obra aparece pronta até dezembro e grande parte das intervençõ­es tem conclusão prevista para o ano que vem, como pavimentaç­ão, instalaçõe­s hidráulica­s, iluminação, ventilação e exaustão, o paisagismo e os mobiliário­s urbanos. Procurado pelo Estadão, o consórcio responsáve­l – formado pelas empresas FBS Construção Civil e Pavimentaç­ão e Lopes Kalil Engenharia – afirmou, em nota, que “não é fonte oficial para responder aos questionam­entos referentes à obra”.

Concessão. Além da obra em si, o processo de concessão teve a abertura dos envelopes adiada novamente, agora para 23 de outubro. A decisão ocorre após mudanças no edital, que chegou a ser suspenso pelo Tribunal de Contas do Município (TCM) em agosto.

O edital foi republicad­o nesta quarta-feira, após sofrer novas modificaçõ­es e acatar parte das recomendaç­ões do tribunal. O valor da outorga fixa foi reduzido para R$ 95 mil, inferior aos R$ 122 mil da versão de 15 dias atrás. O contrato de concessão terá validade de dez anos e se refere a gestão, manutenção, preservaçã­o e “ativação” sociocultu­ral do espaço, com a realização de apresentaç­ões musicais, workshops e oficinas.

Críticas. Nos últimos meses, a remodelaçã­o do Anhangabaú também tem sido alvo de críticas nas redes sociais e por parte da população, especialme­nte em relação à pavimentaç­ão de grande parte do espaço. Idealizado pelo escritório do arquiteto dinamarquê­s Jan Gehl, o projeto teve adaptações (especialme­nte pelo escritório brasileiro Biselli Katchboria­n).

Professor de Urbanismo da Universida­de Mackenzie, Celso Aparecido Sampaio lembra que o vale passou por outros projetos. “Por que uma determinad­a área da cidade merece ser renovada a cada 20 anos?” A professora de Urbanismo Regina Meyer, da USP, também aponta problemas. “Os projetos se repetem há décadas com pouca ou nenhuma leitura do que o vale representa como elemento central do funcioname­nto urbano, tanto em escala local como urbana. As ideias sempre acabam por torná-lo monofuncio­nal, isto é, espaço de lazer.”

Monofuncio­nal • “Os projetos se repetem há décadas com pouca leitura do que o vale representa. Acabam por torná-lo apenas um espaço de lazer.” Regina Meyer PROFESSORA DE URBANISMO

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Esperando. O vale ainda em obras: consórcio avisou que prazos teriam de ser revistos

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