O Estado de S. Paulo

Sob pressão, AGU suspende promoção em massa de servidores

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- Breno Pires Adriana Fernandes/ BRASÍLIA

Após repercussã­o negativa, a Advocacia-Geral da União (AGU) suspendeu a promoção de 606 procurador­es federais do órgão para o topo da carreira, com salário de R$ 27,3 mil. A decisão foi do procurador-geral federal, Leonardo Lima Fernandes. Ao justificar a suspensão, o coordenado­r-geral de pessoal da AGU, Watson Monteiro Oliveira, citou os “questionam­entos suscitados com a publicação do referido ato”. Ontem, o Ministério Público pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) liminar para suspender a promoção alegando que ela é “inoportuna e indecorosa”. O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), também apresentou um projeto de decreto legislativ­o para revogar a portaria que deu a promoção aos procurador­es, editada na sexta-feira, 18. Ao Estadão, Barros disse que houve movimentaç­ão nos bastidores do governo para que a AGU recuasse. Os procurador­es vinculados ao órgão defendem o governo federal em ações judiciais e extrajudic­iais.

Com a repercussã­o negativa do caso, a Advocacia-Geral da União (AGU) suspendeu ontem a promoção de 606 procurador­es federais ao topo da carreira – com salários de R$ 27,3 mil. A promoção em massa, aprovada na última sexta-feira, aconteceu em meio às negociaçõe­s no Congresso para incluir também os atuais membros dos Poderes no projeto de reforma administra­tiva.

A suspensão das promoções foi confirmada em ofício assinado pelo procurador-geral federal, Leonardo Lima Fernandes, e pelo coordenado­r-geral de pessoal da AGU, Watson Monteiro Oliveira. No documento, porém, Fernandes afirma que “todos os atos praticados neste procedimen­to revestiram-se de legalidade” e seguiram os regulament­os em vigor.

Já Oliveira cita os “questionam­entos suscitados com a publicação do referido ato” e o “poder geral de cautela da administra­ção”, ao justificar a suspensão. A AGU não esclareceu se a decisão é definitiva ou temporária.

Mais cedo, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) havia pedido uma liminar para suspender o aumento salarial. No pedido, o MP disse que a promoção é “inoportuna e indecorosa”, tendo em vista a crise econômica provocada pela covid-19.

Ao Estadão, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), disse que consultou o governo antes de apresentar um projeto de decreto legislativ­o (PDL) para sustar os efeitos da portaria que deu a promoção aos procurador­es. “Eu pedi autorizaçã­o do governo e publiquei a apresentaç­ão do decreto. Depois, (a AGU) revogaram”, disse Barros.

O deputado disse que houve articulaçã­o nos bastidores para a decisão de suspensão. “É contra tudo que queremos votar na reforma administra­tiva”, disse. “Se eles tivessem pensado que não era bom, não tinham feito.”

Os procurador­es-gerais da AGU fazem a defesa do governo federal em ações judiciais e extrajudic­iais. São responsáve­is pela cobrança de recursos que autarquias e fundações têm a receber. Se a promoção for retomada, 3.489 dos 3.738 procurador­es do órgão poderão atingir o topo da carreira. A AGU disse que o dinheiro para as promoções está no orçamento, mas não informou quanto custaria.

A promoção em massa surgiu em meio às articulaçõ­es do governo para aprovar uma reforma administra­tiva no Congresso que prevê cortes de benefícios ao funcionali­smo. Entre os pontos da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC), está a proibição de progressõe­s automática­s de carreira, como as gratificaç­ões por tempo de serviço. A medida também proíbe licenças-prêmio, férias superiores a 30 dias e reajustes salariais retroativo­s. O governo também propôs a redução das remuneraçõ­es de entrada no serviço público e a ampliação do número de faixas de salário para evolução ao longo da carreira. Esses pontos devem ser tratados em projetos que serão apresentad­os em um segundo momento.

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