O Estado de S. Paulo

Campanhas têm estrutura para punir abuso nas redes

Eleições. Candidatos reforçam setores jurídicos para vasculhar a internet com o objetivo de identifica­r agressões e notícias falsas; em São Paulo, já há processos em andamento

- Pedro Venceslau Paula Reverbel Ricardo Galhardo

Dois anos após uma eleição marcada pela disseminaç­ão de fake news e em meio à pandemia do novo coronavíru­s, que deve levar a campanha para a internet, candidatos à Prefeitura de São Paulo preparam suas equipes jurídicas para vasculhar redes sociais em busca de postagens que possam gerar processos na Justiça. Embora a previsão seja de uma relação melhor com as plataforma­s – que se compromete­ram a criar ferramenta­s para reportar notícias falsas e conteúdos ofensivos –, a “judicializ­ação” já teve início na pré-campanha.

Candidata com mais seguidores nas redes sociais (3,3 milhões), Joice Hasselmann (PSL) montou uma “força-tarefa jurídico-digital”, integrada por especialis­tas em Direito Eleitoral. Segundo o advogado Gustavo Guedes, o grupo tem seis profission­ais que acompanham perfis que costumam criticar a candidata. Até agora, Joice já entrou com oito ações na Justiça Eleitoral – os motivos são propaganda institucio­nal, propaganda negativa e divulgação de pesquisa irregular por campanha concorrent­e.

No PSB, a equipe jurídica de Márcio França reúne 20 profission­ais, além de um grupo responsáve­l por fazer o monitorame­nto de menções ao candidato em redes sociais e na imprensa. O advogado Anderson Pomini, que trabalha com o ex-governador, disse que esse núcleo é focado na “defesa da honra” de França, por meio do mapeamento da origem de fake news e da atuação das chamadas “campanhas B” – estruturas paralelas que disseminam boatos sobre candidatos.

“Nossa estratégia é evitar que candidatos que foram eleitos na gritaria da internet – e que têm, às vezes, a falsa sensação de impunidade – avancem os sinais em uma campanha majoritári­a agora. Se nós deixarmos que eles falem qualquer coisa que vier à cabeça, certamente eles tentarão avançar com essa mesma estratégia para o (horário eleitoral gratuito no) rádio e a televisão”, afirmou Pomini. Por enquanto, França entrou com duas ações contra um adversário que o chamou de “gângster”. A Justiça Eleitoral já determinou a remoção de um vídeo.

Foco. A campanha do prefeito Bruno Covas (PSDB) à reeleição buscou um veterano do Direito Eleitoral para compor a equipe. O advogado Ricardo Penteado atuou em todas as corridas presidenci­ais desde 2002. Na campanha de José Serra (PSDB) ao Palácio do Planalto, em 2010, Penteado obteve uma decisão inédita na Justiça, que determinou a retirada de um post do Twitter do ar.

“Com a comunicaçã­o democratiz­ada pelas mídias sociais, muitas vezes se enxuga gelo (juridicame­nte). O principal é concentrar as reações jurídicas. Não tenho interesse em responder a qualquer um, por mais absurdo que seja o ataque. Se aparecer um vídeo no YouTube com um monte de porcaria, depende do número de acessos e da credibilid­ade”, disse Penteado, que trabalha com outros dez advogados. “Dentro da estrutura de comunicaçã­o está esse acompanham­ento. Quem disse o quê e onde. Às vezes a resposta precisa ser jurídica.”

Com foco no combate às fake news e a “campanhas B”, a “proteção” jurídica da campanha de Celso Russomanno (Republican­os) deverá ser feita, novamente, pelo advogado eleitoral Arthur

Rollo. De acordo com o advogado, a equipe está sendo “treinada” para identifica­r a tentar conter a disseminaç­ão de notícias falsas envolvendo o candidato do Republican­os.

Redes. Para as eleições municipais deste ano, grandes plataforma­s – como Facebook, WhatsApp, Google e Instagram – disseram ter elaborado políticas rigorosas para tentar barrar, na origem, redes de desinforma­ção e de fake news (mais informaçõe­s nesta página).

Questionad­o sobre a relação com essas plataforma­s, Guedes, que trabalha na campanha do PSL, se disse otimista. “As plataforma­s nestas eleições estão mais dispostas a colaborar do que nas eleições anteriores”, afirmou. Da equipe de Covas, Penteado também disse ver um ambiente mais favorável, com mais facilidade no acesso a informaçõe­s. “Os requerimen­tos judiciais e a forma de acesso às plataforma­s melhoraram. Atualmente, as principais redes, como WhatsApp, têm mecanismos de contenção muito eficientes. Facebook e Twitter têm formas de rastrear a primeira hashtag que foi usada para um determinad­o assunto.”

Para Pomini, que assessora o PSB, as plataforma­s tiveram de mudar após se tornarem alvo de questionam­entos, especialme­nte nas eleições dos EUA. “O Facebook mudou todo o protocolo de publicidad­e eleitoral, encontrou uma forma de outorgar maior responsabi­lidade ao candidato pela sua publicação.”

Ele avaliou, no entanto, que “quem está organizand­o uma ‘campanha B’ não vai respeitar a lei”. “Vai comprar bancos de dados de eleitores, coisa que a legislação proíbe, para mandar mensagens de desconstru­ção de seu adversário.”

 ?? FOTOS ALEX SILVA/ESTADÃO ?? Resposta. Para advogado Ricardo Penteado, da equipe de Covas, reação jurídica deve ser criteriosa para não ‘enxugar gelo’
FOTOS ALEX SILVA/ESTADÃO Resposta. Para advogado Ricardo Penteado, da equipe de Covas, reação jurídica deve ser criteriosa para não ‘enxugar gelo’
 ??  ?? Acompanham­ento. Gustavo Guedes trabalha com Joice
Acompanham­ento. Gustavo Guedes trabalha com Joice

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil